quarta-feira, 7 de novembro de 2012

3024) O PCC (7.11.2012)



("Salve Geral")


O PCC, ou Primeiro Comando da Capital, nunca é chamado pelo nome nos telejornais da Globo. É sempre citado como “a facção criminosa que controla os presídios paulistas”, ou algo assim. (Por uma questão de coerência, a TV deveria também referir-se à CBF, por exemplo, como “a organização-com-finalidades-de-lucro que finge administrar o futebol brasileiro”.) Dizem que usar o nome de algo ou alguém significa reconhecer sua existência. Isto é um resíduo curioso do pensamento mágico/supersticioso, das pessoas que dizem “CA” para não atrair o câncer e que em noites de trovoadas não usam a palavra “raio”, usam “faísca”. É o vocabulário do avestruz: se eu não pronuncio o nome, a Coisa não existe.

Não tenho simpatia pelo PCC (nem pela CBF), mas ambos são fenômenos da nossa sociedade, tanto quanto as seitas evangélicas, os partidos políticos e a música tecno-brega. Mesmo sem simpatizar com eles, não podemos fazer de conta que não existem. O blog “Crimes no Brasil” reuniu em 2010 quatro pesquisadores acadêmicos que estudam o PCC e as prisões paulistas, e fez-lhes 16 perguntas, cujas extensas e desconcertantes repostas podem ser lidas aqui: http://bit.ly/9cVtf4. Abaixo, transcrevo alguns trechos.

Camila Nunes Dias (USP): “Antes (do PCC) as regras eram impostas – e quebradas – por líderes individualizados que alcançam essa posição a partir da imposição da violência física, do medo e da ameaça, além da formação de pequenos grupos que se utilizavam dessa superioridade física para dominar os mais fracos. (...) O PCC se constituiu como instância reguladora, de imposição e controle do cumprimento das regras, assim como de punição aos transgressores”.

Karina Biondi (UFSCar): “São muitas as mudanças que ocorreram nas prisões após o nascimento do PCC: diminuição no número de homicídios e das agressões entre prisioneiros, fim do consumo de crack e dos abusos sexuais, não se vende mais espaço na cela, não se troca favor com agentes penitenciários em benefício próprio em detrimento de outros, não se fala palavrões. Mas é importante lembrar que essas mudanças não são frutos de leis, decretos ou imposições. Suas propostas nascem de amplos debates e são expandidas e adotadas paulatina e assistematicamente, não sem resistências e diferenciações na condução dessas políticas”.

O PCC é o surgimento de um novo Contrato Social para extinguir, ou amenizar, a selvageria na prisão. Quando você serra uma barra de ferro imantada, o campo magnético se reorganiza em cada um daqueles pedaços. Onde você isolar uma comunidade humana, ela tenderá a se organizar em novas estruturas de poder, convivência, diálogo, repressão, controle de conflitos.


Um comentário:

santanafx disse...

Leio sempre os seus artigos. Quando vc escreve sobre literatura, acho ótimo.Agora, suas ideias sobre política são péssimas.