(ilustração: Caco Galhardo)
A revista Piauí tem uma página intitulada “O Diário de
Dilma”, um pseudo-diário atribuído à presidenta Dilma Roussef. A gente tem o
direito de achar que está numa democracia quando alguém ridiculariza o mandachuva
do país e não é preso. O “Diário de Dilma” não ridiculariza a presidenta, até
pelo irrealismo da proposta, mas faz uma engraçada justaposição entre o pessoa
real e a personagem literária, uma perua sempre preocupada com o penteado, o vestido,
a decoração; que reduz às mais terrificantes banalidades alguns episódios
sérios do momento; que suspira de langor por um embaixador bonitão, ou por um ministro
cujo charme a conduz a devaneios. A revista atribui o “Diário” ao jornalista
Renato Terra, mas, como também o atribui, em primeiro lugar, à própria
presidenta, uma coisa relativiza a outra, e talvez o texto não seja produto de
nenhum dos dois. Talvez o seu redator
seja alguém insuspeito e improvável.
O “Diário” de outubro (na Piauí de novembro) vem sob o
título “Malandro é o curupira, que só faz gol de calcanhar”. É a reta final da campanha eleitoral, e
“Dilma” comenta: “Tô cheia de usar vermelho por causa desses comícios!
Encomendei uns blazers bacanas de verão, laranja, azul Klein, rosa-choque, mas
o Lula insiste em me botar de vermelho.
Pareço um tomate”. No dia 4, após o primeiro debate entre Barack Obama e
Mitt Romney, ela anota: “A Ideli não confessa, mas é louca pelo Romney. Cada
vez que a tevê dá um close naquele queixo talhado a buril, ela dá uma tremelicada.
É sutil mas eu percebo”.
Parece os diários das adolescentes que leem Thalita
Rebouças. Em 5 de outubro ela se queixa: “Sabe onde me enfiaram agora? Na
exposição de um tal de Caravaggio. Legal até, mas o povão está interessado
nisso? Tive de fazer biquinho e cara de raciocínio, o que é péssimo para as
comissuras. Vou mandar a conta do refil do botox para a União e não quero nem
saber”. No dia 17, ela fica matutando:
“Tadinho do Zé Dirceu. Será que tem consulado do Equador aqui em São Paulo?”.
Fica ansiosa para saber quem matou Max na novela Avenida Brasil, manda a Abin
investigar, recebe a resposta e, na véspera de um comício na Bahia, diz que
“dependendo do clima, incendeio a militância revelando o nome ali mesmo”.
Um comentário:
lembro de Juca Chaves
lembrai também
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