terça-feira, 1 de setembro de 2009

1234) Os nacionalismos (25.2.2007)



O mundo está cheio de nacionalismos de natureza muito diversa, e poucos conceitos são tão suscetíveis, quanto este, de provocar brigas insensatas. O mais interessante nesta discussão, para mim, é a imensa auto-estima com que umas pessoas se proclamam nacionalistas, e o imenso amor-próprio com que outros afirmam que não o são. Dá para perceber que o Nacionalismo envolve, tanto nos que o aceitam quanto nos que o rejeitam, valores muito íntimos, muito pessoais, muito definidores que cada um desses grupos vê de melhor em si mesmo.

Não posso resolver aqui o problema, quem me dera, vou apenas anotar alguns sintomas. Falarei do nacionalismo cultural, que se distingue do nacionalismo econômico ou político – cada um tem exigências distintas. Em cultura, existe algo a que chamo de “mau nacionalismo”, e que afirma mais ou menos o seguinte: a) Tudo que é nacional é necessariamente bom, porque a Pátria se auto-justifica; b) Tudo que não é nacional é estranho à Pátria, portanto não tem valor intrínseco, e portanto não há motivo para conhecê-lo ou utilizá-lo; c) Tudo que vem de fora é ameaça.

Atitudes como estas são muitas vezes estimuladas por Estados autoritários que planejam exigir da população sacrifícios e sofrimentos, e sabem que fazê-lo em nome da Pátria é mais seguro do que em nome do Governo. Quem pretende iniciar campanhas militares de ampliação do território, invadindo países vizinhos, costuma alertar a população de que tudo que vem de fora constitui ameaça, o que dá um caráter “preemptivo” às suas próprias invasões. Claro que num clima político desta natureza, a produção cultural que vem de fora, sobre a qual o governo local não tem controle, só pode mesmo ser vista como perigosa.

O erro principal, a meu ver, é defender o nacionalismo baseado na premissa de que somos superiores a alguém. O verdadeiro nacionalismo cultural deve se basear no conceito inverso: o de que não somos inferiores a ninguém. Neste último caso, fica pressuposto o respeito a quem quer que seja, mas sempre ressalvando o fato de que estamos a exigir respeito idêntico. O nacionalismo saudável deve partir do princípio de que nosso povo faz parte da Humanidade e tem a mesma importância e o mesmo valor intrínseco de outros povos. Mesmo que estes sejam mais poderosos em termos políticos e econômicos. Mesmo que tenham uma cultura muito mais antiga que a nossa. Mesmo que vivam num ambiente socialmente mais justo e digno de admiração. Mesmo que esses povos, que achamos ter razão para admirar, não nos admirem. Porque cabe a nós provar-lhes que somos dignos de admiração, que o que produzimos é, apesar de diferente do que eles fazem, tão valioso e tão fundamentalmente humano quanto a produção cultural de quem quer que seja.

É uma atitude que se baseia numa auto-estima e num amor-próprio temperados pelo respeito ao Outro e pela curiosidade natural pelo Outro, sem os quais não pode haver amizade nem convivência.

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