quinta-feira, 2 de julho de 2009

1139) Tragam-me a cabeça de Saddam (7.11.2006)



Saiu no jornal há anos. Um executivo carioca estava numa disputa feroz por um contrato internacional. Coisa de milhões de dólares. Um competidor estava usando meios pouco legítimos para botá-lo para escanteio. A briga de bastidores foi se acirrando durante meses, aí ele contratou um pistoleiro para, numa manhã de trânsito intenso, emparelhar sua moto com o carro do outro sujeito, e dar-lhe meia dúzia de tiros na cara. O que foi feito. A polícia, claro, não fez mais do que ficar parando motoqueiros de forma aleatória e pedindo os documentos.

A imprensa falou muito sobre o caso, e o mandante do crime, sobre o qual, claro, pairavam suspeitas, começou a ser assediado pelo pistoleiro. Queria mais grana. Tinha pensado que o crime “era por causa de mulher”, se soubesse que havia tanta grana envolvida teria cobrado mais. O cara pagou-lhe um bônus, mas um mês depois ele voltou à carga. O que fez o executivo? Resignado, contratou um segundo matador para dar cabo do primeiro. O que foi feito. Escolado, trouxe um pistoleiro lá do Centro Oeste, que para lá voltou depois da tarefa cumprida.

Mas, não é que a história se repetiu? O segundo matador lia a “Veja” e viu uma matéria sobre o mandante. Pediu dinheiro para não ir à imprensa. E o sujeito, já atolado de compromissos até o pescoço (todo mês tinha que ir a Nova York discutir os contratos) deu um suspiro fundo e contratou um terceiro matador para dar cabo do segundo. Desta vez, para não correr riscos com profissionais espertos, providenciou um vagabundo para assaltar o chantagista e matá-lo. O que foi feito. Mas de uma maneira tão labrojeira (=grosseira, incompetente) que a polícia local prendeu o cara e em menos de um mês reconstituiu, do fim para o começo, toda a história aqui resumida. O executivo foi pêgo, e pelo que sei ainda está cumprindo pena, numa cela com TV e frigobar.

Hoje, ligo a TV e vejo Saddam Hussein sendo condenado à morte. Saddam é um jogador velho e calejado, entrou no jogo sabendo a regra. Os EUA o usaram para fustigar o Irã numa guerra que matou um milhão de pessoas e onde até armas químicas foram empregadas. Depois, ficou fazendo barreira à expansão dos aiatolás. Quando começou a engrossar o cangote e a ter ambições próprias, sabia que estava chantageando um executivo poderoso, que tinha meios de executá-lo. Entrou numa briga desigual movido pelo espírito de Tânatos, aquela ambição cega que leva os homens para a armadilha. A mesma que está levando os EUA, muito maiores, para uma armadilha muito maior. Saddam, como Osama Bin Laden, não passa de um matador profissional que resolveu se voltar contra o contratante. Por que? Por dinheiro, por vaidade, por delírio de grandeza – pelas mesmas coisas que fizeram o contratante contratá-lo. Os EUA são como o deus Saturno, que devorava os próprios filhos. Saddam é a bola da vez, e o próximo na fila é Osama Bin Laden.

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