Escrevo estas linhas na noite do domingo, dia 25. Até agora, classificaram-se quatro das oito seleções que irão disputar as quartas-de-final da Copa. Ninguém brilhou. A Argentina, que tinha feito uma partida quase perfeita nos 6x0 sobre Sérvia-Montenegro, jogou mediocremente contra a Holanda, e agora contra o México. A Inglaterra marcou 1x0 no Equador no segundo tempo e levou dois cartões amarelos de tanta cera que fez. O time da Alemanha é uma daquelas divisões Panzer que eles mandam pra Copa de 4 em 4 anos: atropela todo mundo e vai em frente, agora empurrada pela torcida. Portugal bateu a Holanda por 1x0 num jogo emocionante mas feio, cheio de agressões, onde venceu o menos atrapalhado.
Brasil x Gana! Pense num jogo complicado. Já vi seleções olímpicas do Brasil perderem feio para Nigéria, para Camarões. Os times africanos têm tudo que nós temos de bom: a ginga, o drible, a agilidade, a flexibilidade, o improviso, o senso lúdico, a intimidade com a bola resultante de ter jogado com bola de meia, de plástico, de papel, de palha, de pano. Individualmente, os jogadores são espertos, quase todos jogam em times europeus. O que lhes falta é estrutura, tecnologia de treinamento, formação técnica e tática desde a base. O problema das seleções africanas não é dentro de campo, é fora; os times são bons, mas as estruturas... Dá pra tirar pelas nossas, pelas dos clubes profissionais do Brasil inteiro, que em geral são um horror.
Um jogador ganense disse: “Admiramos o futebol brasileiro, mas não temos medo. Muita coisa que o Brasil tem, deve a nós”. E está certo; deve também a Angola, a Moçambique, ao Senegal. Pode ser um jogo excelente, caso o Brasil faça uma escalação parecida com a do último jogo, e caso os ganenses joguem um futebol aberto, ofensivo (o que é provável) e sem violência (o que é difícil, porque batem que dá gosto). Nesta Copa, ninguém sentiu muita falta de Camarões, Nigéria ou Senegal, que já fizeram participações brilhantes em outras vezes. Gana e Costa do Marfim foram boas surpresas: dois times rápidos, habilidosos, com muita força física, talento, objetividade.
Tudo indica um jogo mais bonito e mais emocionante do que os que o Brasil fez até agora. Já enfrentamos o xadrez retrancado da Croácia, a vitalidade taurina dos australianos, a agitação entomológica dos japoneses. Vamos agora ter um teste atraente e difícil: uma escola de futebol semelhante à nossa, uma espécie de versão-beta de nossa própria Seleção, talvez sem os mesmos talentos individuais, mas com a capacidade de, num dia bom, numa daquelas tardes em que tudo dá certo, virar a mesa das expectativas e fazer História.
Se perdermos, vou ficar torcendo por uma final Portugal x Gana. De um lado, a fidalguia ibérico-católica, herdeira de Dom Sebastião e dos navegadores de Sagres. Do outro, a sabedoria milenar negro-tapuia, os jaguares ferozes do deserto. Seria a única maneira de termos o Brasil na final da Copa.
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