As Três Pontes de Teholualc, no sul do México, sobre o rio Colondras, surgiram de uma em uma. Séculos atrás os montanheses criaram uma ponte de cordas para possibilitar a passagem de um lado para o outro. Nem todos, contudo, eram fisicamente capazes de fazer a travessia, e um potentado local financiou a construção de uma ponte de madeira, firme, segura, a poucos metros da primeira. Acontece que os mais jovens preferiam a ponte antiga e sua insegurança, e deixavam a de madeira para as pessoas idosas. Ora, alguns trechos da ponte mais nova, construída com árvores de má qualidade, começaram a apodrecer. Surgiu então o desejo de uma ponte de pedra, até porque o comércio da região aumentava, e com ele o tráfego de carroças para o outro lado do rio. A terceira ponte foi feita; agora, era a ponte de madeira que começava a receber o interesse aventureiro dos mais jovens. As três pontes estão hoje abertas e acessíveis a qualquer pessoa. Quando uma família viaja em grupo, ao chegar ali todos se desejam boa sorte e se separam, cada qual atravessando a ponte que mais lhe convém.
Na cidade do Sêrro (MG) chama a atenção dos visitantes um casarão erguido quase à beira de um precipício, tendo num dos andares superiores uma comprida ponte de madeira que se alonga no vazio e de repente se interrompe, como se deixada inconclusa. Ali morou a família do capitão-mor Anteu Covilhã de Burgos, dono de minas e de cativos, senhor-de-terras temido na região, e que um dia foi emboscado e morto a foiçadas. Algum tempo depois, seu fantasma passou a assombrar a família, surgindo várias noites por ano, caminhando pelo corredor com pesadas botas e batendo na porta dos quartos com o rebenque, sem deixar ninguém dormir. Missas, novenas, aspersões com água benta, nada impediu seu retorno periódico, a abalar o sono dos parentes; até que D. Ermengarda, a jovem viúva, tomou a decisão de arregimentar pedreiros, demolir a parede do final do corredor e construir ali a ponte de madeira, prolongando o corredor até o abismo. Ponte por onde o fantasma, na vez seguinte, seguiu caminhando até o final, deu o derradeiro passo, e se esfumou no vazio. A ponte está ali até hoje, e o fantasma nunca mais apareceu.
Alímbria, fortaleza medieval situada num platô nos montes Apeninos, só pode ser acessada com a travessia de uma ponte. Para dar tempo aos guardas de examinarem bem os que se aproximam, foi erguida uma torre de observação, e a ponte, depois de alargada, foi coberta com as paredes de um labirinto, onde todo recém-chegado precisa avançar lentamente enquanto é vigiado do alto pelos guardas. Com o tempo, o trânsito foi aumentando, a ponte foi sendo alargada, o labirinto ficou mais complexo; hoje há gente que mora nele, e desistiu de chegar à fortaleza.
A ponte que conduz ao mosteiro de Kanerlin, na Romênia, tem cerca de quarenta metros de extensão, por sobre uma fenda rochosa com mais de cem de profundidade. A ponte consta, na verdade, de duas plataformas que se projetam uma ao encontro da outra, de ambos os lados do abismo – mas não se tocam. Existe entre elas um espaço vazio que deve ser transposto, com certo risco de vida, por qualquer pessoa que pretenda chegar ao mosteiro ou retirar-se dele. É neste ponto que os relatos variam e tornam-se contraditórios, porque, segundo se tem apurado ao longo dos anos, um homem (o mosteiro é vedado a mulheres e crianças) que se dirige ao mosteiro vê diante de si uma abertura de cerca de um metro até a continuação da ponte, espaço que pode ser transposto com apenas um pequeno pulo, ou uma passada mais larga. Por outro lado, um visitante ou um ex-noviço que pretenda regressar ao mundo profano atravessa a primeira metade da ponte mas então (todos os relatos concordam nesse ponto) veem a continuação dela situada a distâncias que vão de cinco a dez metros, espaço que só pode ser transposto com um grande salto, com o risco de cair no despenhadeiro – o que faz muitas pessoas, surpreendidas por essa discrepância inesperada, repensarem seu projeto de vida, e questionarem-se intimamente se de fato vale a pena o risco de perder a vida para voltar ao mundo.
Em Baixaverde/Reunión, duas cidades gêmeas na fronteira Brasil/Argentina, a linha demarcatória passa pelo centro comercial, mas ao se afastar dali é coberta pela Ponte Suspensa, construída pela família Sá-Pereyra, na forma de um arco suave com uma extremidade em cada país. A ponte é coberta de mosaicos criados pelos irmãos gêmeos León e Lucas Sá-Pereyra, o primeiro nascido numa ambulância na Argentina e o segundo numa maternidade brasileira. Tendo estudado vários anos na Europa (Roma, Amsterdam, Barcelona), os irmãos se especializaram na criação de murais e painéis de mosaicos, que utilizaram em numerosas obras na Europa e nas Américas, e principalmente nesta ponte, no lugar de origem de sua família. A ponte utiliza como painéis laterais mosaicos em 3-D (“como os retângulos de uma barra de chocolate”, explica León, o mais bem-humorado dos dois) cujo aspecto e colorido mudam de acordo com o ângulo de visão do observador. Assim, quem cruza a ponte na direção da Argentina acompanha ao longo desses trinta metros o desfile de rostos de argentinos ilustres – rostos que se transformam em brasileiros, para o pedestre que caminha no sentido contrário, rumo ao nosso país. Assim, tem-se a impressão de ver o rosto de Diego Maradona transformar-se no de Caetano Veloso (ou vice-versa), o de Erico Verissimo virar o de Adolfo Bioy Casares, as feições de Astor Piazzolla tornarem-se as de Moacyr Scliar, a imagem de Angelica Gorodischer fundir-se à de Fayga Ostrower, e outras surpresas.
Cambises II, em sua campanha de conquista da Líbia, recorreu a um grupo de engenheiros espartanos que lhe forneceram o conceito de ponte articulada, capaz de ser desmontada e conduzida em carroças durante a campanha, e ser rapidamente construída quando necessário. Diante de um rio ou de uma falha no terreno, os soldados persas rapidamente encaixavam as tábuas, mediante um engenhoso sistema de protuberâncias, cavidades e cavilhas que firmavam as peças no devido lugar. O ponto de partida da ponte era fixado no chão com postes profundamente fincados, e à medida que as tábuas eram encaixadas umas às outras a ponte avançava sobre o abismo, até chegar ao lado oposto e ali também ser fincada. Após a passagem da tropa, a ponte era desmontada e conduzida em carroças até o obstáculo seguinte.
No município de Jandirópolis, sul da Bahia, o governo federal iniciou em 1975 a construção de uma ponte que ligaria dois planaltos contíguos, encurtando em mais de 50 km a distância entre a sede do município e o trevo que conduzia a Salvador. A construção foi iniciada com fanfarras e celebrações, mas crises políticas e reformas ministeriais deixaram o projeto em banho-maria. Da ponte projetada, ficou pronta apenas a parte inferior da estrutura, dezoito pilares verticais, paralelos, dois a dois, de ponta a ponta. Quando ficou claro que dificilmente o governo retomaria uma obra tão dispendiosa, a população local mobilizou-se e, escalando as pilastras, improvisou gambiarras arquitetônicas de toda sorte, construindo passagens horizontais em que os pilares são unidos por tábuas, troncos de árvore, postes de cimento descartados, tubulações metálicas furtadas a uma represa próxima, placas de acrílico amarradas umas sobre as outras. E a população atravessa por ali.