O planeta de
Aldebarã-5 tem uma civilização influenciada pelos colonizadores
terrestres. Seu vocabulário exprime as
características da natureza do planeta e o seu modo de observar os fenômenos da
psicologia e da cultura. Confiram os
verbetes abaixo, recolhidos, meio ao acaso, do Pequeno Dicionário
Interplanetário de Bolso.
Laupinn – Estilo arquitetônico de colunas para edifícios
públicos, com colunas redondas, triangulares, quadradas, pentagonais e assim
por diante, de acordo com a função do edifício.
Atskont – Sistema de plantar roçados que em geral envolve
umas três pessoas em fila indiana: a primeira cava um buraco, a segunda despeja
sementes ali, e a terceira cobre sementes com terra, enquanto cantam baixinho
uma música qualquer cuja cadência os ajuda a trabalhar em sincronia. Usa-se
geralmente com um adulto acompanhado de duas crianças, para acostumá-las à
rotina do trabalho.
Cartunth – A sucessão de soluções improvisadas (ou “gambiarras”)
que alguém providencia enquanto não resolve um problema qualquer. Soluções que
acabam produzindo outros problemas colaterais, e requerendo novos improvisos,
os quais se acumulam numa cadeia de situações difíceis de explicar a quem
chegou agora.
Akank – Terrina larga que se costuma colocar em cima da
mesa durante o dia, entre as refeições, recolhendo pedaços de comida que não
merecem ir para o lixo: frutas pela metade, biscoitos partidos, sanduíches
incompletos, fatias de queijo da semana passada, tudo que pode ser comido sem
problemas mas que em geral se perde porque fica misturado a comidas mais novas
e mais atraentes.
Willykunks – Um conjunto de técnicas usadas pelos
estudantes para “colar” ou “filar” nos exames, e que envolvem uma infinidade de
recursos: papeluchos dobrados e escondidos na roupa ou no cabelo, fórmulas
copiadas na pele por baixo das roupas, etc.
Vollcrep – A sensação de recordar um fato relativo a uma
pessoa e ser capaz de recuperar na memória várias emoções e opiniões diferentes
sobre essa pessoa, antes mesmo de lembrar quem é. Provoca descrições como: “Me
disseram para entrar em contato com alguém, que não lembro agora: só sei que é
uma pessoa que conheço desde a infância, de quem já me afastei por discussões
tolas, voltei a ter amizade mas não consigo confiar totalmente nela, ou nele.”
Guiombs – Uma espécie de lesma coriácea capaz de se
alimentar de praticamente qualquer coisa digerível. Os aldebaranes as usam para
ajudar na limpeza de pratos, tigelas, copos e outros utensílios após uma
refeição, bem como das mesas e pia da cozinha. Elas engolem e digerem tudo que
seja orgânico (cascas de frutas, migalhas, de pão, etc.), facilitando o
trabalho posterior de limpeza. Algumas famílias
se afeiçoam a elas e costumam deixá-las sobre a mesa durante a refeição,
alimentando-as com ossos, farofa, etc.
Hagazz-hagizz – A consciência de ter um compromisso
social importante para cumprir, e
hesitação entre o interesse de comparecer, pelos prováveis resultados
positivos para a vida profissional e pessoal, e o desejo de ficar em casa
entregue a alguma tarefa banal que exija muito pouca energia íntima.
Anspruch – A curiosa sensação de esperar por alguma coisa
longamente, até por muitos anos, e no momento de satisfazer esse desejo perceber
que essa expectativa tinha se tornado uma parte essencial de sua vida, e não
vale a pena trocá-la por uma satisfação que, a esta altura, não passa de um
anticlímax.
Azunkerd – O estado de tensão psicológica de uma pessoa
introvertida que precisa estar presente a um evento cheio de gente (uma festa
de família, uma confraternização de trabalho, etc.) e fica dividida entre
sensações opostas: a angústia da rejeição, quando percebe que ninguém dá importância
à sua presença, e a angústia do julgamento, quando alguém se aproxima e tenta
estabelecer contato.
Egugs – Pequenos pratos comestíveis, feitos de farinha-doce
torrada e prensada, servidos à sobremesa, com doces, mel, etc., que molhando o
prato o tornam mais fácil de mastigar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário