quinta-feira, 5 de novembro de 2020

4638) Por que eu acho impossível a colonização do espaço (5.11.2020)



O leitor de ficção científica cresce ouvindo falar em visitantes de outros planetas ou de outras galáxias, mas não faz uma idéia muito clara do que seja isso.
 
A todo instante a gente ouve propaganda de filmes ou de séries de TV falando em “visitantes de outra galáxia...”. Por que? Porque não basta dizer “visitantes de outro planeta”, tem que ser algo mais excitante, mais deslumbrante, e “galáxia” é uma palavra ótima. No tempo em que eu fumava, Galaxy era meu cigarro favorito.
 
Visitantes de outra galáxia? Isso nunca vai acontecer.
 
A ficção científica não passa de uma fantasia minuciosamente racionalizada. Mesmo a de teor mais tecnológico, mais rigoroso, a chamada “FC hard”, é apenas minimamente realista.
 
Qualquer história que envolva viagens no tempo, na minha opinião, deveria ser classificada como fantasia, e não como FC, porque não acho possível deslocar para o passado ou para o futuro um ser vivo ou um veículo pesando trocentas toneladas. A toda hora a gente vê nos jornais que no laboratório tal se fez uma micro-partícula recuar um micromicrossegundo no tempo. Pode ser. No mundo macro, acharei impossível até que me demonstrem o contrário.
 
Aprendi isso não com fantasistas como Ray Bradbury, mas com escritores como Arthur C. Clarke, para quem qualquer história que envolvesse viagens a uma velocidade maior que a da luz era fantasia, e não FC. 


Não penso assim para ser implicante com ninguém, mas porque faço um esforço para entender o que é cientificamente possível, mesmo que eu pessoalmente não precise disso – minhas histórias de FC são totalmente anti-científicas. Eu me baseio nas imagens e modelos da literatura, não da ciência.
 
Toda a minha FC é fantasia, no sentido de que toda literatura é fantasia, é um amálgama de imaginação com memória. Isso vale para Balzac, para José de Alencar, para Star Trek e para  novela das 8. É tudo fantasia. (Não no sentido de “Fantasia Heróica” de Tolkien etc., mas no sentido puramente literário, de “narrativa imaginada”).
 
Isaac Asimov imaginou em seus romances uma galáxia, a nossa Via Láctea, totalmente colonizada e habitada por seres humanos, por nós, sem um alienígena sequer. Tem coisa mais fantasista do que isso? Se fosse possível uma raça (a nossa) ocupar fisicamente toda a Galáxia, dificilmente deixaria de encontrar outras raças, ou mais ou menos avançadas do que nós.


Os autores da geração de Asimov eram jovens ousados, com sólida formação científica (ele, Heinlein, De Camp, Del Rey, Clarke, Wollheim, Pohl, Kornbluth, etc.), mas o que os tornou gigantes foi sua capacidade de fazer a imaginação elastecer as possibilidades da ciência. Se tivessem ficado presos ao “possível”, teriam produzido muito pouco.
 
Nos pulp magazines onde eles surgiram, suas histórias estavam lado a lado com a de outros jovens (todo esse pessoal já estava publicando em revistas aos 20 anos de idade, e já tinha livro aos 30) que não tinham a mesma base científica.
 
Para esses outros, eram sinônimos termos como interplanetário, interestelar e intergaláctico. Usavam qualquer um destes, como palavras intercambiáveis, e em função do grau de melodrama ou sonoridade que quisessem produzir.
 
Não são a mesma coisa.


O que é uma viagem interplanetária? Uma viagem da Terra até o nosso ilustre Plutão, que era planeta, deixou de ser e está cotado para ser de novo, implica em fazer uma nave (tripulada ou não) transpor um abismo de cerca de 5 bilhões de quilômetros.
 
O que é uma viagens inter-estelar? Vamos tomar como base o sistema estelar mais próximo, Alfa do Centauro. A Wikipédia me informa que fica a cerca de 4 anos-luz de distância da Terra. (São distâncias tão grandes, e relativas a corpos em movimento constante, que é sempre sensato arredondar os números.) Um ano-luz tem 9.460 trilhões de km.
 
Sou ruim de contas, mesmo com calculadora, então me acompanhem, e corrijam se for o caso.
 
Nossa primeira viagem inter-estelar, portanto, pela lógica deverá transpor um abismo de cerca de 47.300 bilhões de quilômetros.
 
Ou seja: para ir a Plutão é uma distância de 5 e para ir a Alfa do Centauro é uma distância de 47.300.  Viajar numa nave espacial para a estrela mais próxima da Terra equivaleria a fazer o trajeto Terra-Plutão mais de 47 mil vezes.  




E uma viagem inter-galáctica? Que distância, comparada a estas duas, teríamos que percorrer para nossa espaçonave chegar na Nebulosa de Andrômeda, a galáxia mais próxima da nossa?
 
A Nebulosa fica a 2.540.000 anos-luz da Terra. Multipliquem esses dois bilhões e meio pelos 9 trilhões e meio de quilômetros que há num ano-luz. Parece que dá cerca de 23 trilhões de km.
 
É a distância que um disco-voador teria que percorrer para trazer seus “visitantes inter-galácticos” até a Terra e dizer: “Levem-nos ao seu líder! Viemos de longe, e é grande a nossa expectativa de um diálogo inter-galáctico de alto nível”.
 

 

 
 








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