Você é um cidadão norte-americano que trabalha para uma empresa de pesquisa, contratada, em última análise, pelo governo do seu país. Sua missão é viver no Terceiro Mundo: em países quentes, com cidades de trânsito infernal, água pouco confiável, costumes incômodos, idioma inexpugnável, valores ininteligíveis. Você avalia as coisas, preenche planilhas, faz uma pesquisa meio quantitativa e meio qualitativa. Deve transmitir suas impressões, opiniões, julgamentos, avaliações da probabilidade disto ou daquilo acontecer.
O narrador de The Names (1982) de Don DeLillo é um cara
que produziu uma lista de 27 indignidades praticadas por ele na convivência
conjugal; a lista foi escrita por ele meio que psicografando o que ele achava
que a esposa pensava a seu respeito. Agora separado, ele se dedica a preencher
as planilhas e estudar grego, afinal estão morando em Atenas. Há uma simetria
incubada entre essa massa de tabulações e índices que ele, James Axton, manda
via telex para seus patrões. E há em volta dele (que só o percebe mais adiante)
uma série de crimes simétricos acontecendo. Crimes onde – como nos policiais
clássicos de Agatha Christie (Os Crimes do ABC) ou de Ellery Queen (A
Tragédia de X, ...de Y, ...de Z) ou de Borges (“A morte e a bússola”) – as
letras, a grafia, o local do crime, são coisas cruciais.
“Nunca pensei que teria saudade do meu apartamento,” diz uma
amiga de Axton, em Jerusalém; “deve ser porque meu corpo ficou lá.” Seus amigos
expatriados são todos razoavelmente abastados e vão toda noite aos restaurantes
locais, onde têm noitadas espirituosas rodeados por figurantes gregos. Há um
cineasta meio maldito, amigo de Axton, que quer transformar toda a investigação
desse mistério (a esta altura já se percebe ser um culto clandestino) num
documentário. É um desses artistas intensos, que se arrebatam por uma idéia e
não abrem nem pra um trem. Ele e Axton conseguem conversar, separadamente, com
homens do culto. Têm diálogos de terrestre com marciano, e vão embora.
Um comentário:
Pô, eu gostaria de ter um emprego de ler esses livros que você apresenta. Não dá tempo de adquirir tantas obras interessantes! Deus me ajude! hehehe
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