Ele chegou a ser considerado, pela hiperbólica imprensa
roqueira, como o maior guitarrista vivo do rock, o maior guitarrista de todos
os tempos e “o homem que nunca tocou uma nota errada”. Exagero, é claro, fórmulas sem sentido. Toda
avaliação estética é qualitativa, subjetiva, impossível de quantificar, medir e
organizar num ranking de pontuação. O
próprio Jimi, quando ouvia essas coisas, dava uma risada meio rouca.
O livro Jimi Hendrix por ele mesmo (Ed. Zahar, 2014,
tradução de Ivan Weisz Kuck) é uma compilação de declarações de Hendrix em
primeira pessoa: entrevistas (jornal, revista, TV, rádio), textos manuscritos,
diários, cadernos de anotações. Os organizadores intervêm de vez em quando, com
notas de poucas linhas para situar certos depoimentos no contexto de algo que
estava acontecendo.
Hendrix serviu de exemplo para muita gente de como alguém
podia ser um garoto-problema (fugiu de casa, foi expulso da escola) e ao mesmo
tempo não ser um criminoso, não ser “do Mal”, como se diz. Pelo que ele fala,
não era nada do Mal, apenas queria trabalhar com o que gostava (e só gostava de
uma coisa: guitarra), usar cabelo extravagante, roupa extravagante. Quando
voltou famoso a Seattle e recebeu as chaves da cidade, disse: “As únicas chaves
que eu esperava ver nessa cidade eram as da cadeia”.
Talentoso e intuitivo, Hendrix não é um pensador articulado,
não tem a lógica brechtiana e meio absurdista de Bob Dylan, nem o espírito
grouchomarxista de John Lennon. É um rapaz que vive para a música; grande parte
dos seus depoimentos é tentando explicar as dificuldades de gravação ou
masterização de um disco, porque buscavam efeitos que os técnicos desconheciam.
Ele, que despontou para o sucesso no Reino Unido, detestava os técnicos de
estúdio dos EUA, preferia os ingleses: “Os engenheiros lá são mais criativos.
Fazem coisas fantásticas, que lembram até a forma como lutaram na Segunda
Guerra Mundial. É tudo muito positivo, o clima, a engenharia, a coisa toda. Lá,
estar com um engenheiro é estar diante de um ser humano. É estar com alguém que
está fazendo seu trabalho. Aqui na América, os engenheiros não estão nem aí
para você. São tão máquinas quanto os gravadores com que trabalham. Dá pra
sentir que falta o ser humano, que o estúdio só está interessado na conta, nos
123 dólares por hora”.
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