("The Tell-Tale Heart", por Virgil Finlay)
Não sei quem foi
que disse que o remédio de um doido é outro na porta. Talvez seja preciso um maluco para entender o que se passa na
cabeça de outro maluco. Ele tem que ser
capaz de pensar como o maluco e ver que até certo ponto toda maluquice é
justificada. E tem que ser capaz de dar
um passo atrás e ver que é só doidice mesmo, ou seja, aquilo não é a
narrativa-mãe, aquilo é o Delírio do Depoente.
Por mais comovente que esse delírio seja. Assim como um bêbado é alguém que ‘NÃO ESTÁ BÊBADO!!!”, um bom
doido relativiza qualquer loucura.
Num ensaio sobre
a imaginação, Montaigne diz (não li o ensaio, vi a citação por aí): “Gallus
Vibius preparou sua mente de tal forma para compreender a essência e a dinâmica
da loucura que deixou seus critérios serem distorcidos, a ponto de não poder
acomodá-los de novo em seus devidos lugares; e, caso quisesse, poderia se
vangloriar de ter-se tornado um abestado através da sabedoria.”
O psicanalista
Robert Lindner tem um ensaio famoso, “O divã espacial” (“The Jet-Propelled
Couch”) onde ele descreve a longa terapia de um homem que acreditava piamente
num universo paralelo “space opera” onde alternava seus dias com os dias
passados na Terra. (Há uma tese de que
esse paciente teria sido o escritor Cordwainer Smith.) O analista dava-lhe conselhos de como
administrar seu império galáctico, mas acabou se envolvendo e entrando na
viagem do outro. Recompôs-se depois (não é spoiler), mas admitiu que houve um
duelo psicológico intenso, e que por um momento o Delírio do Depoente
prevaleceu.
Vejo, por
exemplo, Rubião tentando glosar os motes de Quincas Borba, tentando a ominosa
tarefa de entender um doido por dentro.
Deve acontecer muito com empresários no campo das artes, que endoidecem
por artistas imbancáveis, que se deixam levar mais pelos seus instintos do que
pela razão, e que antes dos interesses pessoais pensam acima de tudo nos
interesses do coração. Muitos ficam ricos. Provavelmente porque sabem como
pensam os seus fãs na derradeira fila a contar do palco. São mentes
iguais.
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