Um país é como uma catedral gótica que está em construção há
séculos. O “pobrema” é quando uma nova equipe assume o projeto. Resolve
continuá-lo. Só que agora vai ser um edifício-garagem. Mais algumas décadas, nova troca de
comando. Surge uma idéia brilhante: por
que não transformar aquele edifício-garagem num heliporto? E por aí vai. Quando séculos depois a equipe primordial reassume o controle tem
que explicar como alegoria cristã todos aqueles penduricalhos arquitetônicos,
que à primeira vista parecem não ter nada a ver com catedrais. A doutrina, a
teoria, tem que bater com a realidade.
Quando a realidade se mostra irredutível, não custa nada a teoria dar a
volta ao quarteirão e trazer um novo aprouche.
Imagine o velho Oeste americano, as imensidões do Vale da
Morte ou Monument Valley, aquela horizonte árido e aquelas formações geológicas
impudentes, “cheguei”, tão reconhecíveis quanto uma assinatura num cheque. Parece um trecho do país construído em
mandatos sucessivos por dois partidos que eram não apenas politicamente
antagonistas, mas esteticamente jurados de morte. Tudo lhes era permitido no poder, menos destruir o que o outro
conjurou. (Na China, a solução de cada
um era avançar a muralha mais para a esquerda. Mais para a direita.)
Pode um país ser tocado pra frente assim? Meu amigo – você está preparado para escutar
a resposta? Pois tanto pode como
vai. Tanto pode como vem sendo tocado
assim há muito tempo, desde antes de qualquer um de nós aqui se entender de
gente. Todos os países assim são
tocados. Uns resvalam pra guerra civil, outros pra economia de mercado, e não
se sabe qual dos dois teve mais sorte, ou menos.
Vejam só. Atravessei
a catedral gótica e no meio dela não tinha um altar. Tinha um bloco de pedra
com uma porta. Abri-a – e não vi nada
do lado de lá. Eu ia dizer para não
incendiar a cidade conquistada, porque o poder é uma mistura de mil teorias das
conspirações e um bilhão de desconfianças.
Talvez seja esta, na História da Humanidade, a primeira geração em que
nerds de 50 anos estão no Poder.
Cinquentões cobertos de acne e sardas, dispostos a devolver com juros
tudo que sofreram.
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