(ilustração de Poty para Grande Sertão: Veredas)
Um dos grandes problemas para estudar (e não meramente
“ler”) o Grande Sertão: Veredas é que Guimarães Rosa fez dele um texto
corrido, direto, sem interrupções, sem separação de capítulos, sem segmentos
precedidos de título ou número, sem qualquer tipo de divisão. Quando vamos citar o livro podemos dar
apenas o número da página, que muda de edição para edição. (Em obras clássicas,
com numerosas edições, costuma-se citar o capítulo, não a página, que sempre
varia.) O problema não é só com
citações, mas também com a necessidade que o leitor tem de memorizar uma
sequência, um fio condutor. Subdivisões
ajudam. Quando o livro é contínuo, as palavras passam por nós e se perdem como
as águas de um rio incessante.
Uma das tentativas de partir o romance em unidades foi feita
por Ariano Suassuna em “Encantação de Guimarães Rosa”, um texto de 1967
recolhido no Almanaque Armorial (org. Carlos Newton Júnior, Ed. José Olympio,
págs. 148-149). Diz Ariano que Rosa “entrou instintivamente no grande ritmo
épico” e estruturou seu romance ao longo de dez Cantos, como num poema épico,
mas sem indicá-los. Essas dez
subdivisões do texto seriam, segundo Ariano:
“O primeiro canto começa no início, tem a lista dos chefes,
a descoberta que faz Riobaldo de que é filho bastardo de Selorico Mendes (...)
e vai até o começo da traição a Joca Ramiro.
O segundo canto começa com a luta contra Zé Bebelo sob o comando de
Hermógenes e vai até a chegada do chefe guerreiro Sô Candelário.
O terceiro, vai da espera de Joca Ramiro no
É-Já até o julgamento de Zé Bebelo.
O
quarto, pega do episódio da Guararavacã até o Bambual do Boi.
O quinto, começaria com a nova andança dos
jagunços, do Poço até a morte de Medeiro Vaz.
O sexto, do enterro deste chefe até o primeiro grande ataque aos
‘judas’.
O sétimo começaria com a
grande lista dos cangaceiros, até a fuga de Zé Bebelo do cerco que lhe fora
posto por Ricardão.
O oitavo
iniciar-se-ia com a cena na fazenda de Dodó Ferreira e iria até o pacto de
Riobaldo com o Diabo.
O nono começaria
com a nova força de autoridade de Riobaldo e iria até a travessia do ‘Liso do
Suçuarão’.
Finalmente, o décimo
partiria daí até o desenlace.”
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