Falei dias atrás na mania que tem esse povo de, toda vez que
eu invento uma palavra, vir se queixar a mim que a palavra não existe.
Certamente vivem num universo em que, quando Adão e Eva surgiram, já havia um
exemplar do Dicionário Aurélio, ou do Houaiss, informando as palavras que
poderiam usar.
Repito mais uma vez: um
dicionário não é um Código Civil dizendo o que pode e o que não pode fazer, é
mais parecido com um Guia Telefônico, que faz uma longa lista, altamente
provisória, de (quase) tudo que existe no momento, para quem precisar.
As palavras novas podem surgir do zero, invenção total, mas
às vezes são derivações que termos que já existiam. Sempre tem alguém que usa uma palavra pela primeira vez e ela
pega. Quando é o povo que faz isso, é impossível saber de onde veio, porque só
nos damos conta quando a palavra já tem milhões de usuários.
Temos mais sorte quando são escritores,
cientistas, jornalistas, políticos: muitas vezes o uso deles fica registrado,
pode ser rastreado até o texto original.
A palavra “feminista”, por exemplo, é atribuída a Alexandre
Dumas Filho, em 1873; seu tradutor para o inglês G. Vandenhoff a traduziu por
“feminist” e fez uma ressalva: “perdão pelo neologismo”.
“Factóide” é um termo hoje em voga na
política, para designar fatos inexistentes ou irrelevantes que ganham
importância através das telecomunicações. A criação é de Norman Mailer, em 1973,
em seu livro sobre Marilyn Monroe. Hoje,
todo mundo usa. Mas houve um dia
em que leitores cautelosos fecharam o livro e pensaram: “Acabo de testemunhar
uma contravenção. Alguém usou uma palavra que não existe”.
Um artigo no The Guardian (aqui: http://bit.ly/1lwrt9y) examina essas e outras
origens de palavras hoje de uso comum no inglês, e algumas também no
português. Tem palavra mais comum do
que “internacional”? O primeiro uso
registrado é de 1789 através de Jeremy Bentham, em An Introduction to the
Principles of Morals and Legislation, onde ele propõe o termo “international
jurisprudence” para substituir “law of nations”, que considerava equivocado.
"Meme”, palavra hoje tão comum na cultura web, foi criado
em 1976 por Richard Dawkin, com um sentido ligeiramente diferente do que tem
hoje. Para ele, um meme “representa idéias, comportamentos ou estilos que se
espalham de pessoa para pessoa. Pode ser uma dança da moda, um vídeo viral, uma
nova moda, um recurso tecnológico ou uma frase de efeito. Assim como os vírus,
os memes surgem, se espalham, sofrem mutações e morrem.”
Hoje, meme (e sua distorção proposital via
zoeira, “mene”) é “foto bizarra com legenda humorística superposta”.
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