A Guerra de Princesa é um dos grandes episódios épicos da
história da Paraíba. Em 1930 o município
de Princesa Isabel desafiou o governo do Estado, chefiado por João Pessoa, o
qual tentava (muito compreensivelmente, do ponto de vista administrativo)
evitar que o algodão paraibano fosse remetido direto para o porto do Recife,
sem pagar impostos na Paraíba. A velha animosidade entre os coronéis sertanejos
e os burocratas do governo precisou apenas dessa fagulha para pegar fogo.
Princesa pegou em armas, declarando-se “Território
Independente”, com hino, bandeira, o escambau. e foi atacada pelas tropas do
governo. Em julho daquele ano, o assassinato de João Pessoa pelo líder
sertanejo João Dantas, por motivos mais pessoais do que políticos, espalhou a
guerra pelo resto do Brasil. O conflito
ganhou outra proporção, os sertanejos entregaram as armas e Getúlio Vargas
virou ditador.
Não conheço muitos romances sobre a Guerra de Princesa. Dois
deles, contudo, são de Aldo Lopes de Araújo: O dia dos cachorros (Recife:
Bagaço, 2005), uma reconstituição fantasiosa e desbocada da campanha, e agora A dançarina e o coronel (Bagaço, 2014) que é focado no mesmo tempo e espaço,
mas com uma narrativa muito diferente.
Desta vez, o centro do romance é a chegada de um circo à cidade (que no
livro recebe o nome de “Perdição”) e uma porção de fatos inusitados que acontecem. A guerra é lá fora, vemos os jovens que
partem armados, alguns que voltam mortos na carroceria de um caminhão, mas o
foco da história é nos personagens presos no interior da cidade cercada.
Num clima meio O Circo do Dr. Lao de Charles G. Finney (o
romance fantástico arquetípico do tema “Circo Chegou na Cidade”), vemos a
história do rapaz que faz uma corda apontar para o ar, sobe por ela e
desaparece; o avião rebocado por carro de boi; o bebê que passa 40 anos no
ventre da mãe; um desfilar de criaturas e situações que ora lembram Garcia
Márquez, ora as histórias que minha avó contava a minha mãe muito antes de
Garcia Márquez saber o beabá.
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