quarta-feira, 15 de outubro de 2014

3631) A Vida e os Tempos de Carpente Dias (15.10.2014)





Cap. 1 – De como Carpente tinha esse nome porque o pai gostava de um cineasta e a mãe de uma banda.  

Cap. 2 – De como ele foi filho único de mulher largada do marido (o qual subiu ao céu numa carruagem de fogo, ou algo igualmente definitivo, quando Carpente tinha apenas três anos), encostada na mãe doente, sofrendo com o atraso no pagamento da pensão, e mesmo assim o pirralho teve uma das infâncias mais felizes já registradas no Medidor Celestial do bairro do Catete.  

Cap. 3 – De como anos depois a vida, essa eterna caixinha de surpresas, pôs Carpente na escadaria do prédio da Receita, na Esplanada do Castelo, no momento em que uma moça escorregou no chão da tarde chuvosa, e foi coreograficamente colhida pelos braços dele, e salva de rolar escadaria abaixo, e houve um cambaleio, um roçar de superfícies, um agradecimento balbuciado antes da fuga, antes que ele tivesse tido a chance de dizer algo como “puxa, você ia se estabacar toda lá embaixo”, ou equivalente; portanto, melhor assim. 


Cap. 4 – De como o mero perfume que ficou nas roupas de Carpente lhe explicou com eloquência, na longa noite daquela tarde, que era debalde, pois uma mulher com aquele cheiro não ia querer saber de um cara com aquela barriga.  

Cap. 5 – De como Carpente jogou-se com tal fúria à bicicleta ergométrica que um mês depois sobreveio-lhe um piripaque alerta-alfa, houve um fade-out, e os médicos o beijaram no rosto ao dar-lhe alta um mês depois, diziam que ele tinha ganho a Mega-Sena da loteria médica, e Carpente, sempre cético, achando aquilo corporativismo e auto-promoção, pois a saúde estava cem por cento, muito obrigado.



Cap. 6 – De como mal retornou ao Catete a mãe de Carpente mandou-o sentar na poltrona e prestar atenção porque o assunto era sério, e na mente do nosso herói a alegria de estar de volta não a sua casa, mas ao seu quarto, era indizível, e ele pouco ligou para a revelação, por parte da mãe, dos remédios que Carpente teria que continuar tomando, das coisas que estava proibido de fazer, das comidas que não poderia mais nem chegar perto.


Cap. 7 – De como isso pareceu a Carpente pior do que o hospital, de modo que na primeira chance ele exibiu o certificado de alistamento numa Força de Paz de civis, coordenada por uma ONG de um amigo que ele tinha no Largo dos Leões.  

Cap. 8 – De como a mãe predisse-lhe todos os infortúnios e depois rogou-lhe todas as pragas, mas Carpente, por força desse estratagema, está até hoje circulando entre o Afeganistão, o Iraque e a Síria, viajando com tudo pago, ganhando uma nota preta por ter aprendido a ligar uma bomba à ignição de um carro em trinta segundos.


Nenhum comentário: