Wes Anderson usou as locações reais da cidade de Gorlitz (Alemanha) para realizar seu O Grande Hotel Budapeste (2014), em cartaz por aí. Mesmo assim, nas horas em que foi preciso, por exemplo, mostrar o abismo dos Alpes, o que entra na imagem é um painel pintado, tão antirrealista que parece uma página de livro infantil. Felizmente, este filme não pretende “passar uma sensação de realidade”. Em termos de enredo e personagens achei-o menos denso e palpável do que Hugo Cabret de Scorsese (ambientado na mesma época) e mais coerente e focado do que o Dr. Parnassus de Terry Gilliam. Este último é um ponto de referência interessante sobre Anderson. Há muito da imaginação visual torrencial de Gilliam. E algo daquelas suas histórias onde os personagens precisam cumprir uma missão, e escolhem o percurso mais cênico e movimentado, não necessariamente o mais rápido e mais discreto.
Não vi os outros
filmes de Wes Anderson, então vou falar apenas deste. É uma dessas aventuras
meio sofisticadas, com direção de arte primorosa, um roteiro vertiginoso e bem
encaixado, para quem não for muito exigente. E sempre com um tom de comédia,
aquela leveza que nos faz apenas lamentar com um oh a morte de um coadjuvante,
e nada mais. Monsieur Gustave (Ralph Fiennes) é um gerente de hotel cheio de
requintes e de recursos. Sua convivência com pessoas idosas de clãs
multimilionários o envolve num caso de possível assassinato, desaparecimento de
uma valiosa obra de arte, testamentos conflitantes, etc. Melodrama puro, diluído naquela leveza de
espírito de Amélie Poulain.
O universo é
o que em literatura se convencionou chamar de “ruritânio”. A Ruritânia é um
país europeu cheio de castelos, arquiduques, bosque, campos nevados. Sugerido
em O Prisioneiro de Zenda (1894) de Anthony Fox, esse país imaginário
tornou-se uma espécie de cenário de aluguel para histórias que não precisem da
tecnologia de comunicação de hoje. Tecnologias com algo de moderno e algo de
antiquado, ultimamente meio adotado pelos steampunk, onde convivem a espada e o
revólver, o telefone e o cavalo.
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