Este
volume de ensaios de David Foster Wallace (Cia. Das Letras, 2012) tem um título
que parece uma correntinha de clips: Ficando Longe do Fato de Já Estar Meio
Que Longe de Tudo (tradução satisfatória para o original: “Getting Away from
Already Pretty Much Being Away From It All”). A tradução é de Daniel Galera e
Daniel Pelizzari, que cortam um dobrado, com competência, para traduzir a prosa
errática, precisa, absurdista de Wallace. O livro tem ensaios variados: um
texto curto e perceptivo sobre o humor na obra de Kafka; uma análise em câmera
lenta e stop motion dos prodígios que Roger Federer realiza numa quadra de
tênis; uma aula magna em que ele diz aos estudantes, basicamente, que a vida é
chata, e que cabe a nós torná-la excitante e maravilhosa através do esforço
conjunto da imaginação e da vontade; uma reportagem gastronômica que desanda
num questionamento do nosso direito de matar lagostas em água fervente.
Wallace
é uma mistura de satírico feroz e humanista compassivo, tão frequente na
literatura dos EUA. Ele consegue, num mesmo parágrafo, mostrar todo o ridículo
do comportamento de um grupo de pessoas e ao mesmo tempo nos despertar uma
certa simpatia por elas. Isto é mais visível nos dois primeiros (e mais longos)
ensaios do livro. O primeiro, que lhe dá o título, é sua cobertura da Feira
Estadual de Illinois, uma dessas feiras agro-industriais-precuárias que
misturam comércio e lazer. Eu gostaria de ver o choque cultural que esse texto
produziria num habitante de um grotão qualquer, alguém que não vê TV e tem
apenas uma vaga idéia do que sejam os EUA. O próprio Wallace, que passou a
infância e a adolescência em Illinois, quase se apavora diante daquele evento
de desbragado consumismo, mau gosto, glutoneria, tacanhice, ostentação kitsch e
ingenuidade caipira. E ao mesmo tempo ele parece estar pondo o braço sobre os
ombros do leitor e dizendo: “Pssst... nós também somos assim”.
Um comentário:
Que pena que o cara se matou. Esse faz falta.
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