Suponhamos (disse o professor de Matemática) que a
existência de dimensões no espaço-tempo esteja relacionada a campos energéticos,
de modo que um ser vivo pudesse chegar intacto ao fim de uma viagem
transdimensional, e uma cadeira não. Suponhamos então (disse o jornalista,
tamborilando os dedos na borda do teclado) que as criaturas vivas do nosso
planeta têm diferentes graus de gasosidade, registre essa palavra como de minha
autoria, e passam sem se ver, uma através da outra, como uma galáxia inteira
passa por dentro de outra galáxia sem que duas estrelas se toquem. Suponhamos
(disse o fazendeiro com chapéu de palha e charuto desafiante) que eu chamasse o
delegado e perguntasse que destino foi dado àquele rapaz bêbado que enchia o
saco de todo mundo nas festas daqui da cidade, falando em não-sei-do-quê
não-sei-de-quá transdimensionais.
Suponhamos que eu já esteja de saco cheio disso tudo e não
queira mais mexer nesse assunto, entende aí, boa noite, foi mal (o rapaz, já
não bêbado). Suponhamos (disse a sua platéia o dr. Jean-Marie François, Ph. D)
que eles dominam uma dimensão a mais que nós; que há atalhos do espaçotempo que
somente eles podem atravessar, e nós não; como o cavalo do xadrez, que vive
numa dimensão a mais que os outros. Suponhamos (disse o dr. Nathaniel, diretor
da clínica) que o senhor perceba o quanto seu trabalho está bem encaminhado e
que este é o melhor momento para um merecido descanso, dr. François, de modo
que trouxemos aqui esta autorização judicial, e garantimos que tudo está
preparado para que o sr. nem pense em trabalho.
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