“É por isso que Cruz do Cavalcanti é um lugar que nunca irá
pra frente. Não tem como. Não é porque seja um lugar ruim, ou um lugar
de gente que não presta, ou então porque exista (como já foi sugerido em plena
Câmara Municipal) que exista uma caveira de burro enterrada embaixo do piso de
mármore do Salão Nobre da Prefeitura.
Nada disso.
"O problema de Cruz
(como chamamos nossa querida terrinha) é um problema de ordem matemática. Este
artigo é o décimo-quinto que escrevo sobre este tema; como é o primeiro a ser
publicado por outro órgão que não o meu blog “Cruz Credo”, tentarei ser o mais
objetivo possível.
“Aqui em Cruz, as famílias se resumem a três principais, os
Cantídios, os Magela e os Noratos. Há cento e cinquenta anos que no município
ninguém solta uma bufa sem autorização de um dos três. Na primeira vez que eu votei para prefeito,
votei no candidato dos Magela, que tinha dado um emprego a meu primo. Ele ganhou.
"Quatro anos depois, candidatou-se de novo. Mas aí os Cantídios e os Noratos apararam
arestas entre si, e se mobilizaram por um candidato único, Jurandirzinho. Ex-supervisor de minha irmã no Controle
Ambiental. Votei nele, e ele
ganhou.
“Vida que segue. Mas
Jurandirzinho (que na verdade era de fora, e entrara nos Noratos por vias
conjugais) começou a incomodar muita gente.
Ficou muito espaçoso, muito minha-própria-turma. Na eleição seguinte, os Cantídios e os Magela
começaram a conversar, a conversar, acertaram os ponteiros, e lançaram um
candidato, Professor Absalão.
"Votei
nele, claro, mesmo sendo ele um Cantídio de sangue e de tinta, por todos os
laços imagináveis. Tudo que eu sou devo
a Professor Absalão.
“Inclusive o emprego que ele me conseguiu em seguida, na
Secretaria de Relações Humanas, não é?
Mas o fato do poder municipal estar nas mãos dos Cantídios incomodou,
mais do que a qualquer outro, aos Magela.
Era preciso um candidato de consenso, e desta vez os Magela se aliaram aos Noratos para impedir
que o professor se reelegesse.
"Conseguiram isso com o artifício (bastante hábil, reconheço), de lançar
o nome de Dona Zizinha Combé, viúva de um comerciante muito ligado aos Magela,
morto num acidente. Até capelinhas já havia em seu nome. A campanha foi no tom religioso e
emotivo. O que posso dizer? Votei em D. Zizinha, e ela ganhou.
2 comentários:
Arretado.
Quero ler mais.
kkkkkkkkkkkkk muito bom
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