Richard Feynman, ganhador do Prêmio Nobel de Física, foi
professor numa universidade carioca durante algum tempo. Era um cientista
questionador, anticonvencional. Embora tivesse adorado o Brasil pelo seu
espírito extrovertido, alegre, ele deu em seus livros de memórias um retrato
muito pouco elogioso da educação brasileira. “A maioria dos universitários não
são estimulados a pensar,” dizia ele, “tudo que querem é decorar fórmulas e
aplicá-las nas provas, sem muito interesse pelo seu significado”. Diagnóstico que bate com a minha experiência
pessoal.
Propuseram a Feynman certa vez um problema conceitual.
Digamos que acontecesse na Terra um cataclismo e toda a nossa civilização fosse
destruída, com todas as nossas conquistas científicas e tecnológicas.
E digamos
que fosse possível preservar, para a humanidade futura, apenas uma frase, uma
frase que contivesse o máximo de informação sobre nossa ciência, sobre o máximo
a que conseguimos chegar na decifração dos segredos do Universo. Que frase
seria essa?
Feynman propôs esta resposta:
“Todas as coisas são feitas de
átomos, pequenas partículas que giram em movimento perpétuo, atraindo-se umas
às outras quando estão próximas, mas repelindo-se quando são ‘apertadas’ umas
de encontro às outras”.
Para Feynman, bastaria um pouco de imaginação filosófica e
de experiências práticas para, partindo desse ponto, recomeçar a civilização. É
algo que a humanidade procurava tateando, desde os filósofos pré-socráticos, e
acabou estabelecendo como hipótese central de trabalho, milhares de anos
depois, no decisivo século 20.
A definição “partículas” é questionável, mas é
um bom ponto de partida para discutir a natureza da matéria. O fato de que se
atraem e se repelem em diferentes condições deixa implícita a cadeia de reações
cuja existência comprovamos, e cuja natureza até hoje tentamos explicar (“força
forte”, “força fraca”, “gravidade”, “eletromagnetismo”, etc.).
Como faria a
civilização futura para reconstituir todo o nosso edifício científico a partir
dessa frase? Bem, isso aí daria um bom romance de FC na linha de Um Cântico
para Leibowitz.
O
que desafios desse tipo têm de bom é que nos forçam a voltar para o
básico-das-coisas, como quando uma criança nos faz totalmente a sério uma
pergunta fatal: Por quê que chove? O sol é feito do quê? Por que umas coisas caem e outras (uma pena,
p. ex.) não? Pra onde a gente vai quando dorme? O que tem embaixo do chão? De
que é que eu sou feito?
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