(ilustração: Julian Garcia)
Escrevi nestes dias sobre o PlayStation Terra, o
hiper-mega videogame que é o nosso universo, de acordo com uma teoria de Rich
Terrile, cientista da Nasa. Ele diz que o avanço da computação e do
processamento de dados leva a crer que um dia criaremos simulações de
computador equivalentes a um mundo de verdade. Diz Terrile que o universo, como
a computação gráfica, é formado de pixels, minúsculos pontos ou unidades
indivisíveis. Há um limite da matéria além do qual não conseguimos observar, o
que sugere que mesmo sendo o número de “pixels” do universo um número
espantosamente grande, não é infinito, e se não é infinito é computável.
Cada um desses pixels do nosso mundo, diz ele, pode ser
definido por coordenadas de tempo, espaço, volume e energia. Ele diz: “Estamos
no limiar de um estado em que seremos capazes de criar um universo, uma
simulação, e de descobrir que nós também estamos vivendo no interior de uma simulação
parecida, que poderia por sua vez produzir mais uma, e assim por diante. Nossos
seres simulados poderiam produzir novas simulações. O que me intriga é que, se
existe um criador, e no futuro haverá um criador que seremos nós mesmos, isto
quer dizer que nós também podemos ter sido criados por alguém. Somos como
deuses, e como criaturas de deuses, e tudo é produto nosso.”
A FC brinca com essa idéia há décadas. No conto de Frederik
Pohl “The tunnel under the world” (1954, texto aqui no Projeto Gutenberg: http://tinyurl.com/mbvtvfn) o personagem
começa a perceber estranhas descontinuidades e repetições no seu dia-a-dia (os
famosos “erros da Matrix”), até descobrir que o seu mundo é uma simulação, com
pessoas dotadas de pseudo-consciência e pseudo-livre-arbítrio, feitas para
testar campanhas publicitárias. (Premissa retomada por Daniel F. Galouye em seu
clássico Simulacron-3, de 1964.)
Fernando Pessoa, estudioso dos filósofos gnósticos, fez
experiências com essa idéia de uma hierarquia de deuses criando uns aos outros,
cada novo deus menor e mais imperfeito do que o que o criou. No soneto 1 do
tríptico “No Túmulo de Christian Rosenkreutz”, ele diz:
3 comentários:
Muito bonita e intrigante essa ideia, um negócio meio metafísico e poético, chega a doer o fio da existência quando prolongado. A experiência de ler um livro sobre isso e ficar horas pensando nessa possibilidade pode trazer efeitos colaterais indesejados, no entanto esclarecedores.
Borges tem um conto sobre um homem cujo trabalho noturno cotidiano é sonhar/construir um outro homem e que descobre, por fim, que ele mesmo é apenas o sonho de outro homem anterior a ele.
Vejam a letra de Raul Seixas:
O Conto do Sábio Chinês
Raul Seixas
Era uma vez
Um sábio chinês
Que um dia sonhou
Que era uma borboleta
Voando nos campos
Pousando nas flores
Vivendo assim
Um lindo sonho...
Até que um dia acordou
E pro resto da vida
Uma dúvida
Lhe acompanhou...
Se ele era
Um sábio chinês
Que sonhou
Que era uma borboleta
Ou se era uma borboleta
Sonhando que era
Um sábio chinês...(2x)
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