sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

3748) Livros ilustrados (27.2.2015)



(ilustração de Poty para O Púcaro Búlgaro, de Campos de Carvalho)


O pesquisador João Antonio Buhrer postou no Facebook imagens de livros ilustrados pelo curitibano Poty. Obras de Campos de Carvalho, Guimarães Rosa, Jorge Amado e muitos outros.  

Houve um tempo em que era uma prática corrente em nosso mercado editorial lançar romances ilustrados.  Nosso conterrâneo Santa Rosa produziu ilustrações extraordinárias para obras de José Lins do Rego, Graciliano, Drummond e Jorge Amado. 

Hoje em dia, isso parece que acabou.  Se pegarmos ao acaso 100 romances (ou livros de contos) brasileiros lançados ano passado, de diferentes editoras, quantos deles terão ilustrações internas?

A ilustração encarece o livro? Não acho. Por outro lado, tem editora encarecendo livros ao imprimi-los, pretensiosamente, em papel cuchê, papel brilhante de todo tipo.  Olhe, é um absurdo imprimir em papel brilhante um livro para ser lido. A gente tem que ficar procurando um ângulo que não reflita a luz em nossos olhos  Papel de livro tem que ser fosco. Ponto final.  

E um romance ilustrado não precisa de papel de gramatura alta ou com brilho. Livro de arte, livro de fotografia, tudo bem.  Mas um livro onde o foco é no texto e a ilustração é complemento, essa ostentação não é necessária. Em geral, ilustrações como as de Poty ficam com seu valor estético intacto em qualquer tipo de papel.

Dizem que “livro ilustrado é livro para crianças”.  Já vi leitores metidos a sofisticados dizendo do livro de alguém: “O livro é cheio de figurinhas, até parece que é pra leitor analfabeto”. 

A verdade é que existem analfabetos da escrita e analfabetos da imagem. Um leitor desse tipo não sabe o que está perdendo, e talvez não saiba nem o que está ganhando.

Idealmente (cada caso é um caso, sempre) um livro ilustrado deveria pagar “luvas” ao ilustrador pela execução da encomenda (toda obra encomendada tem que ter uma paga extra, fora o recolhimento de direitos autorais), e uma percentagem do preço de capa, tal como o autor recebe.  As fórmulas são muitas, e devem ser conversadas em cada trabalho. 

Alguns livros pagam um preço fixo ao ilustrador, e tchau. Outros pagam uma percentagem a ele, sem mexer nos 10% do autor (o mínimo que um autor deve receber). Em outros casos, a percentagem do ilustrador é diminuída da do autor, este ficando com 9% e o ilustrador com 1%. Também há divisões de 5% para cada, quando a proporção do volume de material criado por cada um seja essa. 

A ilustração não está ali para explicar o livro, para torná-lo mais fácil de entender, e sim para tornar o livro mais complexo, mais rico de informações, produzindo um diálogo entre dois criadores, mesmo quando é um diálogo em que um dos dois toma a dianteira.






Um comentário:

RLCA disse...

Por falar em Santa Rosa e em papel inadequado para livros, calhou que estou lendo agora "O Anjo Pornográfico", biografia de Nelson Rodrigues escrita por Ruy Castro. Paraibano, nunca ouvira falar em Santa Rosa, que recebe rasgados elogios de Castro pela concepção de cenários para peças de Nelson. E o papel de "O Anjo Pornográfico" reflete a luz chatamente.