(ilustração: "Random Access", Gilbert Gorsky, 1998)
Um professor nos disse uma vez:
“Imagine toda a cena que quer escrever. Não somente o que vai ser de fato escrito, mas tudo o mais que há em volta. Faça o que for escrito refletir esse em-volta, que ficou apenas subentendido”.
Isso era numa oficina, se bem me lembro em torno da cena de uma discussão ou briga dentro de um bar. Dois personagens numa mesa começam uma altercação, insultam-se, berram, agarram-se, e ficam brigando durante uma página inteira. A pergunta do professor era: o bar estava vazio? Ninguém por perto? Ninguém se meteu? Ninguém reclamou do barulho? Ninguém olhou? Cadê as reações das pessoas em volta?
“Imagine toda a cena que quer escrever. Não somente o que vai ser de fato escrito, mas tudo o mais que há em volta. Faça o que for escrito refletir esse em-volta, que ficou apenas subentendido”.
Isso era numa oficina, se bem me lembro em torno da cena de uma discussão ou briga dentro de um bar. Dois personagens numa mesa começam uma altercação, insultam-se, berram, agarram-se, e ficam brigando durante uma página inteira. A pergunta do professor era: o bar estava vazio? Ninguém por perto? Ninguém se meteu? Ninguém reclamou do barulho? Ninguém olhou? Cadê as reações das pessoas em volta?
Era isso que Raymond Chandler tentava mostrar quando
comparava o romance policial “hardboiled”, que ele ajudou a aperfeiçoar, com os
romances policiais ingleses dos anos 1920. Nos livros norte-americanos, dizia
ele, “há uma impressão maior de cenário, como se a mansão de Cheesecake Manor
existisse de fato, e não apenas a parte mostrada pela câmara.”
Este último detalhe mostra a ironia dele com o artificialismo de Hollywood, pois num filme, para mostrar uma discussão como aquela do bar, nem sempre é preciso construir o bar inteiro, basta construir as partes que a câmara vai enquadrar.
Mas o escritor (até porque trabalha “a custo zero”) tem a obrigação de imaginar cada cena em 360 graus, não necessariamente para mostrar, mas para convencer o leitor de que o que não foi mostrado também existe.
Este último detalhe mostra a ironia dele com o artificialismo de Hollywood, pois num filme, para mostrar uma discussão como aquela do bar, nem sempre é preciso construir o bar inteiro, basta construir as partes que a câmara vai enquadrar.
Mas o escritor (até porque trabalha “a custo zero”) tem a obrigação de imaginar cada cena em 360 graus, não necessariamente para mostrar, mas para convencer o leitor de que o que não foi mostrado também existe.
Geralmente nos satisfazemos com a primeira idéia, quando é
boa, e deixamos de ir em busca da segunda, que seria ainda melhor.
Quando Billy Wilder estava fazendo Five Graves to Cairo, o ator/diretor Erich von Stroheim (um daqueles carecas durões tipo Vin Diesel) interpretava o marechal alemão Rommell, “a Raposa do Deserto”. O maquiador foi lhe aplicar um bronzeamento no rosto, para indicar que ele estava exposto ao sol africano. Stroheim avisou: “Deixe branco da testa pra cima, para todo mundo ver que eu estava de quépi”.
Quando Billy Wilder estava fazendo Five Graves to Cairo, o ator/diretor Erich von Stroheim (um daqueles carecas durões tipo Vin Diesel) interpretava o marechal alemão Rommell, “a Raposa do Deserto”. O maquiador foi lhe aplicar um bronzeamento no rosto, para indicar que ele estava exposto ao sol africano. Stroheim avisou: “Deixe branco da testa pra cima, para todo mundo ver que eu estava de quépi”.
Stroheim, aliás, é o mesmo cara que ao dirigir um filme na
época do cinema mudo exigiu que a campainha da casa (do cenário) funcionasse de
verdade. Alguém ironizou: “O público vai escutar?” E ele: “Não, mas o ator que está dentro da casa vai, e é
diferente a reação de alguém ouvindo uma campainha de verdade e se virando, e a
de alguém que meramente recebeu instruções para se virar”.
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