quinta-feira, 12 de setembro de 2013
3289) Eu me lembro 2 (12.9.2013)
Eu me lembro dos chaveirinhos com uma imagem de linhas horizontais, que a gente mexia o chaveirinho e a imagem se movia.
Eu me lembro de filmes intitulados “Tanganica, o inferno na selva”, “Ao sul de Sumatra”, “Curuçu, a besta do Amazonas”.
Eu me lembro de vestir e calçar coisas com o nome de Topeka, Sete Vidas, Bamba, Samelo, Volta ao Mundo, BanLon.
Eu me lembro de meu pai jogando no Presidente Vargas à noite, numa preliminar qualquer entre Gordos x Magros.
Eu me lembro dos candeeiros do quarto de dormir, e da sensação de triunfo de quando me pediam para aumentar ou diminuir a chama, o que se conseguia girando uma rodinha de borda serrilhada.
Eu me lembro das espirais Sentinela, que vinham duas a duas, encaixadas como um yin-yang, verdes, quebradiças, e do suportezinho metálico onde eram fixadas, e da espiral de cinzas partidas que deixavam no chão.
Eu me lembro do gato que caiu dentro de um dos tonéis de água que havia em nosso quintal, e destruiu as unhas nas paredes internas tentando escapar, e não conseguiu.
Eu me lembro de ficar parado olhando as mil variações de cores da fonte luminosa da praça, segurando a mão de minha mãe.
Eu me lembro de um carrinho de empurrar que meu pai fez para mim aos oito anos com latas de goiabada como rodas, e que eu depois usei como bateria, empunhando duas colheres-de-pau da cozinha.
Eu me lembro do dia em que eu vi na estante de livros uma lagartixa morta, ressequida, presa embaixo de um livro sob o qual tentara passar e ficara presa, e o livro era a Bíblia.
Eu me lembro da gemada com gema de ovo, açúcar e farinha.
Eu me lembro da girafa em tamanho quase natural na calçada das Casas José Araújo, e lembro que sonhava em roubá-la para filmar o poema de Buñuel.
Eu me lembro do nosso conjunto “pé de palito” de móveis de sala, o sofá coberto de plástico azul, as poltronas amarela e laranja, e que o plástico do sofá se rasgou e minha mãe disse que foi porque eu ficava lendo e passando a unha no plástico até cortar, mas não foi.
Eu me lembro dos meninos andando de barco, num domingo de sol, nas águas do Açude Novo.
Eu me lembro de que quando minha mãe chegou gritando que Jânio tinha renunciado eu estava lendo “A cidade submarina” de Conan Doyle.
Eu me lembro dos picolés enrolados em papel, e de que eu não gostava do de rainha (castanha) porque os farelos se acumulavam na ponta.
Eu me lembro de ficar olhando as meninas sendo barradas no colégio quando iam usando sutiã preto por baixo da blusa branca (não podia).
Eu me lembro de ter usado sapatos de meu pai com enchimento de algodão no bico, porque meu pé era menor, e pedaços de papelão dentro, quando estavam furados na sola.
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3 comentários:
quando eu era criança, eu confundia Tiradentes com Jesus Cristo.
Sempre quero matar a saudade de Campina Grande. ponho Tropeiros da Borborema com Gonzaga e leio o mundo fantasmo.
Eu me lembro de tantas coisas asssim que faria, fácil, um "Eu Me Lembro"Numero Dois. Mas o que me comoveu mesmo foi o sapato com jornal dentro por causa dos furos na sola, no tempo em que, entre o Rio e Pirapora, morávamos na Republica do Peru, em Copa, no auge da "Revolução", tipo 67-68 e meu pai, pobre funcionário, com 4 filhos, não tinha como comprar sapatos frequentemente. É isso. Me emocionei. Abraço.
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