quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010
1698) “Blackwater” (21.8.2008)
Um programa recente na TV a cabo teve como tema as relações sombrias e escusas entre o governo Bush e a Blackwater, a principal empresa de mercenários (funcionários e soldados de aluguel) envolvida na Guerra do Iraque. O programa entrevistou o jornalista Jeremy Scahill, autor do livro Blackwater: The Rise of the World’s Most Powerful Mercenary Army (2007). Segundo Scahill, a Blackwater, mesmo sendo o exército mercenário mais poderoso do mundo, é apenas o topo de um iceberg de empresas contratadas pelo governo dos EUA para gradualmente ocuparem as tarefas de logística da guerra, desde conduzir comboios de carga até cuidar da burocracia, cozinhar e fazer tarefas de vigilância. Isto iria liberar um número cada vez maior de soldados para o combate propriamente dito.
Haveria outro benefício. Os soldados mercenários dessas empresas, quando mortos, não entram nas estatísticas oficiais de baixas. Mercenário morto é prejuízo apenas para a companhia para quem o governo terceirizou aquelas funções. Os funcionários da Blackwater ficaram famosos depois de um famoso massacre na ponte de Falluja, em março de 2004, quando quatro deles foram arrancados dos carros pelos iraquianos, fuzilados no meio da rua, queimados e pendurados de cabeça para baixo na ponte.
(Ver: http://tinyurl.com/yhzmsvx, e também: http://tinyurl.com/yfcogju).
Estimativas do custo da guerra para os EUA variam de 850 bilhões de dólares a três trilhões, por enquanto. Imagino que terceirizar essa atividade ajudaria a manter no mesmo ritmo de aquecimento a indústria bélica, que continuaria a fabricar e vender tanques, armamentos, munições, etc., mas aliviaria a mão do Estado, pois os custos recairiam em grande parte nas empresas privadas.
Aqui no Rio têm surgido nas favelas as milícias, que são uma terceira força a brotar no vácuo entre a polícia e os traficantes. As milícias armadas se proclamam grupos de defesa dos cidadãos contra o tráfico em áreas onde a polícia não consegue entrar, ou não consegue manter uma presença constante. A questão é que à medida que esses grupos para-militares se tornam mais fortes, mais bem armados e mais articulados com uma certa ala da política, passam a exercer pressão armada sobre a população. As favelas viviam entre dois fogos, agora vivem entre três.
A privatização da violência armada é a conseqüência natural de conflitos cujo objetivo puramente econômico todo mundo percebe. A retórica pró-forma sobre “libertar o povo”, “derrubar a ditadura”, “implantar a democracia” se choca com os fatos. O objetivo da guerra é o lucro, e surgem cada vez mais grupos que não precisam inventar outro argumento, além do lucro, para empunhar as armas. Clausewitz, convidado a falar sobre “a Arte da Guerra”, disse que a guerra não se parece muito com a Arte, e sim com o Comércio, que é também um conflito de interesses humanos.
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