Mr. e Mrs. Jetlag desembarcam cheios de excitação no aeroporto de Singapura e, depois de passar pela alfândega, pegam um táxi para o Hotel Sheraton. Aconchegam-se ali durante sete dias, andando num táxi exclusivo fretado pela agência de turismo, fazendo refeições em restaurantes conveniados pelo pacote turístico, e adquirindo souvenirs nos shopping centers das proximidades. Dali eles pegam o avião para Nova Delhi, hospedam-se no Sheraton, comem nos restaurantes indicados no pacote, e fazem compras nos shoppings das proximidades. Em seguida voam para Báli, para Sidney, para Tóquio, para Hong-Kong. Sempre no Sheraton.
É mais ou menos assim que vive uma grande parcela da elite cosmopolita de hoje. São pessoas endinheiradas e de certa idade que querem conhecer o mundo, e dedicam-se então a conhecer todos os hotéis Sheraton do mundo (não importa a cadeia – pode ser Hilton, Hyatt, Ibis, qualquer coisa). Precisam desses hotéis como um peixe precisa da água de um aquário, ou melhor, como um mergulhador precisa de escafandro. São viajantes que precisam levar em volta de si uma carapaça protetora feita de elementos de seu universo, para que tenham o mínimo de contato possível com o universo estranho à sua volta.
Daí a existência dessa enorme indústria dos pacotes turísticos onde os viajantes vão em grupo. É um ônibus com 40 senhores e senhoras, mesma idade, mesma classe social, mesmo perfil cultural, todos viajando juntos através do Camboja ou do Peru. Só se relacionam entre si: fazem amizades e inimizades, jogam bridge e pôquer, compram souvenirs, batem fotografias. Às vezes matam-se uns aos outros, como naqueles romances de Agatha Christie onde em todo grupo de ingleses entediados há sempre um personagem baixo-astral que todo mundo na excursão teria motivos para assassinar.
“Globalização” significa, pelo ponto de vista destas pessoas, a criação de um sistema econômico onde o sujeito possa desfrutar em paz de sua aposentadoria, sabendo que o “capuccino” que ele toma no Méridien de Paris poderá ser reencontrado sem perda de qualidade no Méridien de Yokohama; que a geografia interna dos aeroportos obedecerá a um único padrão, para não desorientá-lo; que seu cartão de crédito será aceito de Aberdeen a Zurique. Se tudo correr bem, estes indivíduos sabem que poderão levar sua vida inteira num espaço topologicamente recursivo (êpa!): corredores, escritórios, apartamentos, limusines, agências bancárias e restaurantes – todos idênticos, cada um parecendo ser um prolongamento do anterior, só que distribuídos em volta de todo o globo terrestre.
Mr. e Mrs. Jetlag realizam, no mundo globalizado, a fantasia daquele conto de Julio Cortázar, onde um sujeito entra numa galeria de um prédio em Buenos Aires e na extremidade oposta sai numa rua em Paris, e vice-versa. O que eles querem é passear “longe daqui, aqui mesmo”; precisam que o mundo vá se formatando à imagem e semelhança de seu suburbiozinho físico e mental.
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