terça-feira, 1 de setembro de 2009

1235) A noite do Oscar (27.2.2007)


(Alan Arkin)

Na noite do Oscar, no domingo passado, constatei que estou na idade de me preocupar com a sorte dos veteranos. Acho uma tremenda injustiça um ator como Peter O’Toole nunca ter ganho um prêmio que numerosas antas inexpressivas já ganharam. Não porque eu leve o Oscar a sério, mas o mundo o leva, e se O’Toole fosse premiado isto poderia acarretar, dentro da indústria, uma valorização dos atores inteligentes, cultos, enigmáticos, aqueles casos de múltipla-personalidade-totalmente-sob-controle.

Sendo assim, fiquei feliz ao ver Alan Arkin ganhar o prêmio de coadjuvante. É um ator que admirei muitíssimo há cerca de trinta anos, quando o vi em filmes como Pequenos Assassinatos, Um Clarão nas Trevas, Catch 22, A Solução Sete por Cento e até mesmo sua interpretação do Inspetor Clouseau num dos filmes da série A Pantera Cor-de-Rosa, que a crítica toda detestou. Arkin é um ator intenso, meio excêntrico, que em alguns momentos me lembra as interpretações corrosivas e inquietantes de Carlos Vereza. Não vi o filme pelo qual foi premiado, mas para mim valeu como um Oscar honorário por toda sua carreira.

Prêmio honorário mais do que merecido foi o Oscar de Ennio Morricone, que o pessoal da minha geração conheceu como o compositor do bang-bang italiano, do qual se dizia na época: “A única coisa que presta é a música”. Todos detestávamos Franco Nero, Clint Eastwood, Giulianno Gemma e seus respectivos filmes, mas as trilhas sonoras eram impecáveis. Morricone compôs trilhas magníficas para filmes de todos os tipos: drama, comédia, super-espetáculo, tragédia intimista... Mas se um dia eu tiver que entrar a cavalo numa cidade cheia de caras dispostos a me dar um tiro, não tenho dúvida, vou contratá-lo para musicar minha chegada. Duvido que não fujam todos correndo.

Eu vejo sempre com desconfiança a mistura de política partidária com show-business, embora seja inevitável, já que este último traz em si um cromossomo meio prostitucional. Mas não posso deixar de achar positiva a aparição do ex-vice-presidente Al Gore no palco, junto à equipe premiada do documentário An Inconvenient Truth, em que ele denuncia os perigos do Aquecimento Global. Cruzo os dedos, fecho os olhos e digo a mim mesmo que quem está ali não é o político, mas o sujeito que enxerga a catástrofe à nossa espera no futuro.

E por falar em injustiças, respirei aliviado quando vi Martin Scorsese subir ao palco para ganhar seu primeiro Oscar de diretor. Scorsese é um dos sujeitos mais inteligentes do cinema de Hollywood, um americano que conhece o cinema estrangeiro tão bem quanto o de sua terra; dizem que coube a ele a restauração do negativo de Terra em Transe de Glauber Rocha. O Oscar é geralmente a glorificação da banalidade, do estardalhaço, do desperdício. Desta vez, algumas injustiças foram reparadas, e nenhum tubarão-das-bilheterias monopolizou os prêmios. Boa sorte para quem os leva a sério.

3 comentários:

Andrea Treadle disse...

Putz, vergonha alheia esses comentários sobre Morricone, hein. Você realmente pensa assim?

Braulio Tavares disse...

Vergonha por que? Elogiei o cara, porque o admiro muito.

Diogo (Nógue) Nogueira disse...

Olá

gosto muito dos seus artigos Braulio.
achei muito interessante o post sobre o kafka, "o Ilusionista" que fiqui interessado em ver.

Gostei bastante também do seu livro "Paginas de Sombra"

boa sorte e não pare nunca!