Ontem falei sobre Cabala e criptografia, e não tive tempo (ou melhor, espaço) para entrar no assunto do Código da Bíblia. Um livro com este título foi publicado em 1997 pelo jornalista americano Michael Drosnin, e ficou um tempão nas listas de best-sellers, inclusive aqui no Brasil. Drosnin afirma que matemáticos israelenses descobriram, graças a um sistema de permutações, que o texto em hebraico da Bíblia está cheio de alusões a acontecimentos modernos, desde o assassinato de Yitzhak Rabin até a eleição de Bill Clinton e a invenção do avião pelos irmãos Wright.
Como descobriram? Bem, o computador procura quantas letras é preciso saltar a intervalos regulares para achar um nome próprio (a Bíblia tem 304.805 letras). O nome de Rabin, por exemplo, aparece quando se salta de 4.772 em 4.772 letras. O texto completo, então foi disposto em 64 fileiras de 4.772 letras. Disposto desta forma, é possível encontrar na proximidades do nome palavras como “assassino que assassinará” e “Amir” (o nome do fanático que o matou).
Há várias refutações científicas deste processo. O leitor que quiser se aprofundar pode ir à página de Brendan McKay (onde ele mostra que, usando os mesmos artifícios, pode-se encontrar em Moby Dick previsões dos assassinatos de Indira Gandhi, Leon Trotsky e muitos outros), em: http://cs.anu.edu.au/~bdm/dilugim/torah.html. Outra página com dezenas de links para investigações semelhantes é a de Jochen Katz, “Mathematical Miracles in the Qu´ran and the Bible?”, em http://www.answering-islam.org.uk/Religions/Numerics/ .
Tudo isto me veio à mente dias atrás, quando fui parar no saite Cryptographever, que se oferece para encontrar mensagens cifradas em qualquer texto que a gente forneça. Vi uma dica no weblog MetaFilter (http://www.metafilter.com/) e fui lá. Havia um campo para preencher com um texto em inglês. Como pediam um texto longo, achei mais simples digitar algo que sabia de cor, e copiei lá a letra de “She´s leaving home”, uma das minhas músicas preferidas dos Beatles: “Wednesday morning at five o´clock, as the day begins...” Copiei, cliquei no botão, e daí a pouco veio a resposta. No meio das letras entrelaçadas, destacava-se verticalmente a frase: “John dreams”. “John sonha”! O impacto foi tão grande que descartei de cara, por irrelevante, o fato de que a música é de Paul. Fiquei alguns segundos suando frio, e acreditei estar catucando algum segredo do Universo.
Aí voltei lá no Metafilter. O sujeito que administra o blog, Matt Haughey, diz que quando submeteu a esse sistema todas as mensagens daquele dia no saite, encontrou “Buy now share” (“compre ações agora”); examinando as do dia anterior, encontrou, adivinhe o quê? “John dreams!” Foi um balde de água fria na minha epifania. Como diria o próprio John, “vamos ficar jogando nossos jogos mentais para sempre, projetando nossas imagens no espaço e no tempo”.
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