Assim como existem pseudo-ciências como a Numerologia, que fornece explicações transcendentais baseadas nos números, existem ramos na Matemática dedicados ao estudo das coincidências numéricas. A maioria das pessoas se maravilha diante das coincidências, achando que elas são um recado do Destino. É engraçado como as pessoas atribuem um significado místico a um número qualquer e aí passam a ver esse número em toda parte. O número 3, por exemplo. É a Santíssima Trindade, os três poderes da República, os três estados da matéria (sólido, líquido e gasoso); a Terra é o terceiro planeta em redor do Sol; o Tempo se divide em 3 fases (passado, presente e futuro)... Parece óbvio, então, que alguma coisa na Natureza, ou na Divindade, se comunica conosco através do número 3. Quanto ao 7, nem é bom falar: as 7 artes, as 7 notas musicais, as 7 cores do arco-íris... Pouco importa que tudo isto sejam construções culturais nossas: onde quer que o “número mágico” apareça, vale como prova de que significa alguma coisa.
Se fôr assim, nada me impede de imaginar que o Número Mágico, aquele que guarda em si a Explicação Final do Universo, é, por exemplo, 1.651. Ele está por toda parte. Só não o percebemos porque, ao contrário do 3 ou do 7, ele é difícil de enxergar. Mas quem me garante que não é este o número de folhas destas árvores que vejo agora, pela minha janela? Quem me garante que os eventos decisivos de minha vida não estejam acontecendo a intervalos de 1.651 dias (ou horas)? Quem me garante que entre as pessoas que cruzam comigo na rua não é a pessoa 1.651 que me traz uma influência positiva? Quem me garante que se eu sair dividindo todos os números da minha vida por 1.651 não encontrarei coincidências inexplicáveis e perturbadoras?
Qualquer coisa que possa ser descrita em números pode ser teorizada numerologicamente. É sintomático que os sobrenomes de Lincoln e Kennedy tenham 7 letras, e que os nomes completos de seus assassinos (John Wilkes Booth e Lee Harvey Oswald) tenham quinze!! Isto deve significar alguma coisa, sem dúvida. (Pouco importa se com os nomes completos dos presidentes e os sobrenomes dos assassinos a conta não bata). Coincidências numéricas são as mais fáceis de perceber, porque tudo no mundo pode ser contado, portanto vivemos num oceanos de uns, de dois, de três, de quatros, de cincos, de seis, de setes, de oitos, e assim por diante, a perder de vista. É o mesmo que ocorre com figuras geométricas básicas: o círculo, a cruz, o triângulo... Para onde a gente se vire, encontre uma variante delas, e tudo começa a parecer uma conspiração cósmica que nos envia mensagens cifradas.
A melhor sátira já feita a esta mania está em O pêndulo de Foucault de Umberto Eco. Mas devemos ter paciência com esse viés paranóico da mente humana. Quem me garante que em cada 1.651 teorias numerológicas não há uma que seja verdadeira? Isto basta para justificar os fracassos restantes.
2 comentários:
Olá, grande mestre. Acompanho seu trabalho a algum tempo, desde seus livros Mundo Fantasmo, A Espinha Dorsal da Memória, A Máquina Voadora, livros publicados por editoras diversas como Marca da Fantasia e Brasiliense. Então, meio que sou seu fã.
Soube da existência do seu blog pela página do Fabio Fernandes. É claro que ja coloquei em meu bookmark.
Quanto ao post, concordo com você. Talvez essa carência que sentimos em colocar o fantástico em nossas vidas acabe fazendo com que acreditemos em qualquer coisa, como UFOs, numerologia, astrologia etc. Mas, como bons humanos que somos, precisamos disso para viver, não acha?
Um abraço!
Oi Silvio. Obrigado pela visita! Na verdade, temos necessidade de ordem (encontrar simetrias onde não existem) e de desordem (descobrir coisas que "não batem"). Quando falta um dos dois o caba endoidece...
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