domingo, 9 de março de 2008
0143) The Who e a nossa geração (5.9.2003)
O canal a cabo GNT exibiu o show do grupo inglês The Who no Royal Albert Hall, em Londres, em 2001.
The Who é um dos grupos da Era Jurássica do rock, com todas as conotações que isto implica.
Em 1º lugar, seus membros sobreviventes estão à beira dos 60 anos. Em 2º, são dinossauros porque foram um dos grupos que iniciaram a era do gigantismo nos shows de rock, valendo-se de recursos (som, luz, cenário, palco) com que ninguém nem sonhava no tempo em que os Beatles se apresentavam em público.
E em 3º, porque o Tiranossauro Rex, o mais feroz dos dinossauros, era chamado de “o lagarto do trovão”, e todos os shows do The Who eram uma avalanche maciça daquele conceito que Shakespeare e William Faulkner definiram como “o Som e a Fúria”.
Não esperem de mim a costumeira lamentação do pessoal mais velho, as queixas de que “já não se faz rock-and-roll como antigamente”. O rock de hoje não precisa ser feito como o de antigamente, até porque antigamente já se fazia tudo que se escuta por aí. O próprio show do Albert Hall mostra a continuidade entre as duas épocas quando sobem ao palco quarentões como Bryan Adams (que canta “Behind Blue Eyes”) e os pós-adolescentes Eddie Vedder (do Pearl Jam) e Noel Gallagher (do Oasis).
Muita gente estranha ao ver Mick Jagger saltitando nos palcos até hoje, como se o rock fosse para ser deixado de lado após “a idade da razão”. Pois eu acho que rock é uma dessas coisas cuja porta de entrada é a adolescência. Contraiu, não tem mais jeito; mas se chegar aos 30 anos sem ter contraído, está vacinado.
O show do Albert Hall tem momentos notáveis, como “Baba O´Rilley” com solo de violino de Nigel Kennedy, e um “Drowned” em que Peter Townshend chega sozinho e mostra como se vira um violão acústico pelo avesso.
Mas... a passagem dos anos não perdoa! Townshend está parecendo o ministro Cristóvão Buarque. Roger Daltrey está com o cabelo e as cordas vocais mais curtas. E é um pouco entristecedor ver por trás dos pinotes da dupla a barba grisalha e o perfil discreto de John Entwistle, sempre meio escondido por trás do baixo. Ele viria a morrer no ano seguinte, quando o Who se preparava para iniciar uma turnê nos EUA.
Entwistle sempre pareceu um coadjuvante, mesmo tendo sido escolhido como “o baixista do milênio” pela revista “Guitar” (o 2º colocado foi Paul MacCartney). Depois da morte do baterista Keith Moon em 1978, o Who está, como os Beatles, reduzido à metade.
Momento para pensar: os quase sessentões cantando “My Generation”, o hino equivalente, para sua geração, ao “Geração Coca-Cola” do Legião Urbana. Quando eles cantam “I hope I die before I get old”, não estão mais ironizando os velhotes, como há 38 anos. Continuam a ser uma geração para a qual as outras torcem o nariz, só que agora pela razão inversa. O “que barulheira é essa desses garotos?” virou “que velhinhos são esses pensando que tocam rock?”. É destino de roqueiro, só remar contra a corrente!
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