Reza a lenda que, na véspera da estréia do Brasil na Copa do ano passado, Ronaldo foi dormir e sonhou que Deus aparecia em seu quarto na concentração. Sentado na beira da cama, empunhando um lápis e uma prancheta, Deus lhe disse: “Ronaldo, você é um bom rapaz e sofreu muito – contusões, cirurgia no joelho... Para premiar sua coragem, vou lhe conceder nesta Copa tudo que você pedir.” Ronaldo não hesitou: “Quero que o Brasil seja penta.” Deus anotou, comentando: “Tudo bem, mas já estava previsto. Não quer mais nada?” Ronaldo: “Eu gostaria que ele vencesse todos os jogos, sem nem um empate sequer.” Deus anotou: “Tudo bem, já aconteceu em 70... Algo mais?” Ronaldo: “Eu preferiria que a final fosse contra a Alemanha, ia ser um jogo pra ficar na História.” Deus anotou: “Tá legal.” Ronaldo continuou: “E eu queria fazer os gols do Brasil na final.” Deus franziu a testa e anotou, perguntando: “Pra encerrar, mais alguma coisa?” E ele: “Dava pra eu ser o artilheiro da Copa?...” Aí Deus jogou a prancheta no chão, impaciente: “P.q.p., Ronaldo! Tu tás pensando que eu posso tudo, é?...”
Esta singela fábula serve para ilustrar o fato de que o Brasil obteve na última Copa tudo que ele e o próprio Ronaldo poderiam sonhar. Nem por encomenda teríamos um resultado tão expressivo. Os ranhetas poderão dizer que em 2002 não enfrentamos equipes poderosas como França, Argentina, Itália e outras – equipes tão “poderosas” que pagaram todas um mico histórico, e voltaram para casa com o rabo entre as pernas. Não, amigos. A simetria do universo organizou-se de tal forma que a “máquina arrasadora” da seleção teria ganho até da Argentina de Maradona, quanto mais da de Batistuta.
E é aqui que emergem os contornos da tragédia grega que se prenuncia nas fímbrias do meu entendimento. Depois de um Penta como aquele, podemos sonhar com um Hexa em plena Alemanha? Nem pensar. Eu rezei pro Brasil ganhar aquela decisão porque calculava: “Temos que ganhar da Alemanha é agora, porque em 2006, babau. Eles não vão deixar.” “Eles”, é claro, são todos aqueles que não deixaram o Brasil ganhar Copas como as de 1974, 1978, 1982, 1986, 1990 e 1998. É a Fifa, são as Federações Européias, é a CIA, a Máfia, a Yakuza japonesa... Não duvido que nessas derrotas brasileiras tenha interferido até o dedo diabólico de Zé Santos e Lamir Mota, especialistas nesses golpes maquiavélicos.
Hoje o Brasil começa uma caminhada rumo ao altar dos sacrifícios. Nenhuma força política, econômica ou futebolística da Europa permitirá que em 2006 cheguemos aos seis títulos, deixando Itália e Alemanha nos três atuais. Preparem-se para a tragédia grega, que é quando o herói coberto de glórias afivela as armas pela última vez e parte para o campo de batalha sabendo que a batalha está perdida de antemão, mas é melhor morrer do que recuar. Agora – se Deus aparecer de novo com a prancheta, “abasta” a gente pedir um campeonato simples, e já é lucro.
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