(foto: Rodrigo Buendía, Ecuador)
& não tem
ninguém mais perigoso do que um medroso armado
& a gente
acaba ficando com aquele olhar de tédio de um músico que toca em 10 casamentos
por semana
& a esta
altura só falta mesmo uma história de vampiros submarinos combatendo
zumbis-bomba de Marte
& minha mente
é um ônibus vazio fazendo a circular numa cidade em chamas
& não sei o
que é pior, ficar me revirando na cama ou ficar cochilando no computador
& um peixe
numa gaiola cheia dágua
& vou parar de
dar murro em ponta de faca e começar a rebater bala com a testa
& nem tudo que
é possível vale a pena poder, e nem tudo que é improvável vale a pena descartar
& é preciso
fazer alguma coisa antes que a palavra “brasileiro” se transforme em gíria
pejorativa
& já que ficar
em repouso está fora de cogitação, me deixem pelo menos achar uma órbita mais
condizente
& as
bibliotecas estão cheias de biografias de 700 páginas de gente que ninguém sabe
mais quem foi
& qualquer
fenômeno da natureza pode ser interpretado, com bons argumentos, como bom
augúrio ou como premonição funesta
& às vezes é
melhor um fracasso retumbante do que um sucesso que passa despercebido
& vou por aqui, dando aquele cochilo de soldado na guerra
& toda utopia
do ponto de vista de “A” é distopia do ponto de vista de algum possível “B”
& vivo exausto
como um sonâmbulo que sofre de insônia
& é difícil
trabalhar quando o WhatsApp faz Pínnn! numa média de dez vezes por lauda
& um corvo
empunhando uma pena de corvo e escrevendo um poema
& gente suja
vestindo roupa limpa
& o sujeito
está quietinho e em paz na cela dele, aí vem o indulto de Natal e o obriga a ir
beber com os parentes
& se eu pedir
ao garçom uma chícara de xá, será que ele questiona?
& a memória é
um quadro a óleo, onde nada se apaga, mas se esconde, pintando por cima
& chega uma
hora em que a gente nem tem saco de parar nem de limpar o para-brisa
& sou inocente
do que me acusam e culpado do que me absolve
& não se deve
confundir um acerto com um acordo, nem um acordo com um contrato
& “A gente se
vê por aí” tem um complemento implícito: “...se não depender da minha vontade”
& existe um
ponto inicial em que dor e prazer ainda não se bifurcaram
& o amor é uma
espécie de açúcar para disfarçar o gosto real das coisas
& uma epidemia
é apenas a epiderme de um monstro maior
& contra o
flu, pelo menos, eu já sou vacinado
& nem toda
aldeia tem por objetivo virar cidade
& em política,
a gente acredita com o inconsciente, e depois manda a consciência procurar
justificativas
& a lata não
tem obrigação de ser cúmplice do lixo
& viver é
jogar a moeda pro alto um bilhão de vezes até cair o outro lado
& por aí está
cheio de brutamontes truculentos que quando se escandalizam parecem uma
libélula
& quando eu
vejo uma foto coletiva de ministério penso logo na expressão “flora intestinal”
& quem me dera
um furacão com controle remoto
& nem adianta
pedir dinheiro emprestado a um Banco em chamas
& um canguru
não faz distinção entre a bolsa e a vida
& é impossível
passar adiante um conhecimento; só se pode mesmo sacolejar a cachola de quem
necessita
& quem tem
saliva ainda não está com sede
& um filósofo
de cavanhaque e gola rendada precisa de muito impulso para sobrevoar nosso
presente
& o homem não
é apenas um caniço pensante, tem horas em que não passa de um inseto crente que
zumbir é falar grosso
& quando
amainar o pandemônio desta pandemia nem vamos ter tempo para computar as perdas
e comparar as reflexões
& às duas da
madrugada passa na minha rua aquele maluco falando aos berros com o celular de
si mesmo
& mais o peito
me palpita, mais tenho o palpite de que qualquer pulsação é bom sinal
& é foda ir
dormir pensando quem serão os mortos de amanhã
& gente aí se
lamentando que a geladeira está vazia, ora essa, vende a geladeira, amigo
& a democracia
brasileira é um hímen complacente e consegue manter as aparências mesmo depois
que elas desaparecem de todo
& e nestes
momentos brota em nosso coração aquele sentimento inexprimível chamado A
Revolta Do Grão De Areia Contra A Ventania
& gastaram
tanto dinheiro inventando uma bomba de nêutrons, quando bastava um vírus besta
& certas
mulheres têm olhos baixos de freira, e quando eles se erguem tudo é bordel
& com tempo e
atrito bastante, todo cubo se transforma em esfera
& a esta
altura já existem lugares onde não mais pisarei
2 comentários:
cinquenta e quatro, passou de uma boa ideia, foi Ótimo!!!!!
CLAP, CLAP, CLAP!
E não sisquece de tuitar tudo! Abraçãozão.
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