(manuscrito de Max Weber)
Entre
tantas discussões sobre fatos recentes, encontrei neste blog (http://tinyurl.com/mhqodkc) uma menção
muito útil a dois conceitos de ética propostos por Max Weber, um velho
conhecido dos meus tempos de Ciências Sociais na universidade (curso que nunca
concluí: falaram mais alto o cinema, a cantoria de viola e a boemia).
Weber
distinguia dois tipos de ética, que ele chamava de “Ética da Convicção” e
“Ética da Responsabilidade”.
Na
Ética da Convicção, o indivíduo se disciplina a agir de acordo com suas
convicções, não importa quais as consequências. Suas convicções (ou princípios)
são o que ele tem de mais importante, aquilo que o define, e é preciso sempre
agir de forma coerente com eles.
Os humoristas do Charlie Hebdo, por exemplo,
comportavam-se dessa forma, mesmo sabendo que estavam há tempos ameaçados de
morte. Não transigiam. Essa ética comporta uma boa medida de
coragem pessoal, e também uma certa medida de desdém pela própria sorte. O sujeito movido por ela é geralmente o tipo
que “dá murro em ponta de faca” (para permanecer fiel aos seus ideais), é o
cara que “não abre nem prum trem carregado de pólvora com um doido fumando em
cima” (como diz Zelito Nunes).
Na
Ética da Responsabilidade, por outro lado, o sujeito considera as consequências
dos seus atos e admite desobedecer aos próprios princípios se for para evitar
um mal maior. O valor de suas ações não
é medido em função da coerência íntima de suas idéias, mas do resultado
objetivo de suas escolhas, ou seja, o que vai acontecer se ele agir assim ou
assado.
Quem se guia por essa ética costuma ser é um negociador mais flexível,
que em circunstâncias diferentes pode assumir posições diferentes, mesmo ao
preço de ser taxado de incoerente ou de infiel aos seus próprios valores. É o caso, por exemplo, do indivíduo que
admite mentir para salvar uma vida, ou sacrificar sua honra pessoal visando um
benefício coletivo. Para esses, “fazer a coisa certa” importa mais do que ser
impecavelmente fiel a si mesmo.
É
a velha dicotomia entre o comportamento Técnico (seguir inflexivelmente a
letra-da-lei) e o comportamento Político (fazer arranjos, jeitinhos e conchambranças
desde que para uma finalidade nobre).
Não existe fórmula mágica, mas ao analisar as ações de alguém vale a
pena indagar qual dessas éticas ele tinha mente ao tomar suas decisões.
2 comentários:
É Braulio, a minha convicção na ética da responsabilidade me diz que basta um pouco de responsabilidade para assumir a ética da convicção. Quem quiser ser mártir, seja, eu não.
Acho que há também a "Ética da Convicta Irresponsabilidade", que diz que o mais importante, o grande propósito da existência, é se dar bem, sem se importar com as consequências.
Postar um comentário