Diz-se que a crônica é um gênero literário tipicamente brasileiro e sempre são invocados os nomes de Rubem Braga, Fernando Sabino, Luís Fernando Verissimo, além de outros, hoje menos lidos, como Carlos Eduardo Novaes ou Henrique Pongetti. O que nem sempre se comenta é que dentro do gênero crônica existem subgêneros, e um deles é a crônica rural, que se confunde com a anedota e o “cáuso”.
No
Sertão Onde Eu Vivia de Zelito Nunes (Recife, editora do autor, 2014) é um bom
exemplo da crônica que, ao invés de descrever os mil e um aspectos da rica e
multiforme vida urbana descreve os mil e um aspectos da rica e multiforme vida
rural. Digo assim para combater o
conceito equivocado de que a vida urbana é de uma multiplicidade inesgotável de
tipos humanos, interações sociais, formas de comportamento, demonstrações de
humor, inteligência, presença de espírito, etc., e que a vida rural é uma
pasmaceira uniforme ao som de mugidos de gado.
Ledo
engano. Sem falar em Leonardo Mota etc., aqui mesmo na Paraíba tivemos o
inesgotável José Cavalcanti e seus livrinhos recheados de tipos populares e
linguagem pitoresca. A vida nos sítios, fazendas e vilarejos do interior pode,
sim, ser tão rica e variada quanto a vida que fervilha em torno do Mercado
Modelo ou na Praia de Copacabana. Precisa apenas de gente com olhos e ouvidos
atentos, excelente memória, e capacidade para colocar no papel esses episódios
que, também no interior, mal cabem no estreito espaço das 24 horas de um dia.
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