quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

3716) As Duas Éticas (21.1.2015)



(manuscrito de Max Weber)

Entre tantas discussões sobre fatos recentes, encontrei neste blog (http://tinyurl.com/mhqodkc) uma menção muito útil a dois conceitos de ética propostos por Max Weber, um velho conhecido dos meus tempos de Ciências Sociais na universidade (curso que nunca concluí: falaram mais alto o cinema, a cantoria de viola e a boemia). 

Weber distinguia dois tipos de ética, que ele chamava de “Ética da Convicção” e “Ética da Responsabilidade”. 

Na Ética da Convicção, o indivíduo se disciplina a agir de acordo com suas convicções, não importa quais as consequências. Suas convicções (ou princípios) são o que ele tem de mais importante, aquilo que o define, e é preciso sempre agir de forma coerente com eles. 

Os humoristas do Charlie Hebdo, por exemplo, comportavam-se dessa forma, mesmo sabendo que estavam há tempos ameaçados de morte.  Não transigiam.  Essa ética comporta uma boa medida de coragem pessoal, e também uma certa medida de desdém pela própria sorte.  O sujeito movido por ela é geralmente o tipo que “dá murro em ponta de faca” (para permanecer fiel aos seus ideais), é o cara que “não abre nem prum trem carregado de pólvora com um doido fumando em cima” (como diz Zelito Nunes).

Na Ética da Responsabilidade, por outro lado, o sujeito considera as consequências dos seus atos e admite desobedecer aos próprios princípios se for para evitar um mal maior.  O valor de suas ações não é medido em função da coerência íntima de suas idéias, mas do resultado objetivo de suas escolhas, ou seja, o que vai acontecer se ele agir assim ou assado. 

Quem se guia por essa ética costuma ser é um negociador mais flexível, que em circunstâncias diferentes pode assumir posições diferentes, mesmo ao preço de ser taxado de incoerente ou de infiel aos seus próprios valores.  É o caso, por exemplo, do indivíduo que admite mentir para salvar uma vida, ou sacrificar sua honra pessoal visando um benefício coletivo. Para esses, “fazer a coisa certa” importa mais do que ser impecavelmente fiel a si mesmo.

Weber dizia que “a vida é uma série de decisões cruciais através das quais a alma escolhe seu próprio destino”, e achava que a distância entre as duas posturas não é tão abismal quanto parece; que talvez seja possível conciliar as duas atitudes num comportamento único e coerente. 

É a velha dicotomia entre o comportamento Técnico (seguir inflexivelmente a letra-da-lei) e o comportamento Político (fazer arranjos, jeitinhos e conchambranças desde que para uma finalidade nobre).  Não existe fórmula mágica, mas ao analisar as ações de alguém vale a pena indagar qual dessas éticas ele tinha mente ao tomar suas decisões.





2 comentários:

Maxwell F. Dantas disse...

É Braulio, a minha convicção na ética da responsabilidade me diz que basta um pouco de responsabilidade para assumir a ética da convicção. Quem quiser ser mártir, seja, eu não.

José Roberto Torero disse...

Acho que há também a "Ética da Convicta Irresponsabilidade", que diz que o mais importante, o grande propósito da existência, é se dar bem, sem se importar com as consequências.