sábado, 10 de maio de 2014

3495) Mini-contos de terror (10.5.2014)




(Minha contribuição ao gênero chamado Dark Quarks – contos de terror em duas frases.)

1) Na esperança de engravidar, ela recitou preces, fez simpatias, preparou um berço, e toda noite ia olhar para ele. Uma noite havia alguém lá. 

2) O chão cedeu durante a fuga e ele afundou até a cintura numa lama espessa.  Quando tentou nadar seus braços ficaram presos. 

3) Quando a luz do elevador apagou, ele ficou aborrecido.  O medo só começou quando ouviu um rangido profundo e o elevador começou a mover-se lateralmente, cada vez mais depressa.

4) Ao enfiar o pé na bota esquerda e amarrar os cadarços experimentou com prazer aquela sensação protetora. Ao enfiar o outro, sentiu a ferroada na sola do pé. 

5) Ele morava sozinho, e levantou no meio da noite para atender as insistentes batidas na porta da frente. Somente ao acender a luz da sala viu o braço descarnado que começava a se enfiar por baixo da porta. 

6) Ele percebeu que tinha se perdido na caatinga, e desceu do jipe para se orientar pelas estrelas. Quando o jipe arrancou sozinho, começou o rumor na mata.

7) Morando à beira de um bosque, sempre achou que seus inimigos eram os lobos. Até o dia em que fugindo de um lobo caiu dentro de um poço vazio e aí começaram seus problemas. 

8) O poema saiu inteiro, num jato, como se já viesse pronto, uma, duas páginas, os dedos voando no teclado, perfeito. “Deseja salvar as alterações?” “Não”.

9) Brincando no parque, a garotinha foi seguida por um homem mal encarado. Assustada, pediu carona no carro de uma moça, respirou aliviada, mas a motorista parou o carro na esquina e o homem entrou no banco traseiro. 

10) A festa do casamento foi divina, a viagem agradável, o hotel da lua-de-mel era um paraíso. Mas ela não esperava que na suíte nupcial estivessem quatro amigos do marido, fumando e bebendo, à espera.

11) Acordou num lugar desconhecido, numa cama de metal, coberto de ataduras ensanguentadas. Antes que pudesse sequer pensar, um celular começou a tocar dentro do seu estômago. 

12) O quarto à noite começou a se encher de mosquitos formando uma nuvem alongada, quase sólida. A nuvem esvoaçou até perto da cama e desligou o ventilador para ficar mais à vontade. 

13) Ao ouvir o terceiro sinal, ajeitou o black-tie, o smoking, flexionou os dedos e dirigiu-se para o palco, pressentindo rumor de casa cheia. Chegando ao proscênio, deparou-se com mil e duzentos caiapós armados e pintados para a guerra. 

14) Uma ventania súbita e um vozerio na rua o levaram à janela, de onde avistou a praia, seca, numa extensão de centenas de metros. Procurou o mar com os olhos e o viu no horizonte, erguendo-se até a metade do céu, como uma naja armando o bote.


3 comentários:

Cão Babão disse...

Muito bons os microcontos. Dá aquela vontade de continuar a história de algum jeito.

Guilherme Fischer disse...

Parabéns! Adorei lê-los.

Unknown disse...

Adoravel😍parabens quero mais historias assim👏💖