Hoje, na casa de amigos, fiquei assistindo trechos de um DVD do Led Zeppelin, com apresentações ao vivo gravadas nos anos 70, no auge do sucesso da banda. E fiquei meditando um pouco sobre toda essa história de “heavy metal”, um tipo de rock do qual nunca fui grande admirador, mas que até hoje espanta e fascina milhões de pessoas.
O heavy metal é acima de tudo um vagalhão sonoro, como aquelas ondas gigantescas do Havaí: algo que se abate sobre nós, submergindo-nos por completo. Antes de ser música no sentido tradicional de melodia e harmonia, é uma experiência sensorial, algo que devemos absorver com o corpo inteiro, e não apenas com os tímpanos.
Alguém poderá objetar que todo show de rock é assim. Mas nos primórdios do rock contemporâneo não era. Vejam as fotos dos Beatles no Shea Stadium, em Forest Hills, em todos os lugares onde se apresentavam entre 1964-65 para públicos de 15 a 20 mil pessoas. A amplificação era qualquer coisa, qualquer nota. Não existiam ainda as mesas e as poderosas caixas-de-som que nos anos 70 fariam a fama das bandas metaleiras.
Comparado ao que o Zeppelin, The Who e outras bandas estariam fazendo cinco anos depois, o som dos Beatles era uma vitrola de piquenique.
O Led Zeppelin produzia um tremor-de-terra semelhante à decolagem de um ônibus espacial, mas isso era um bônus que se somava à enorme musicalidade do grupo. Basta revê-los tocando “Going to California” ou a inevitável “Stairway to Heaven” para perceber que o conceito de amplificação de som, numa banda como aquela, não era voltado apenas para o super-espetáculo auditivo, mas também para a criação do que poderíamos chamar de gigantescos close-ups sonoros, onde uma aparelhagem poderosa e sofisticada tornava audível cada respiro e sussurro do vocalista, cada trastejo ou harmônico de um violão acústico.
Em Revolution in the Head, a meu ver o melhor livro já escrito sobre a música dos Beatles, o recentemente falecido Ian MacDonald observava que o heavy metal se originou de uma transição, em meados dos anos 1960, das bandas de quatro integrantes com volume acústico mediano (caso dos Beatles) para o “poderosos trios” que empregavam enorme amplificação.
Nessa mudança, a guitarra-ritmo (ou guitarra-base) era eliminada, e seu espaço era preenchido pelo recurso de aumentar o volume do baixo, microfonar mais de perto a bateria, e encher de distorções a guitarra solo. Com isso, o rock ganhou em poder auditivo: MacDonald chama a música resultante de “um esporte-de-contato sonoro”, enquanto Jon Pareles define a música do Zeppelin como “esculturas em ruído”.
A perda foi pelo lado das composições. Os guitarristas-ritmo eram geralmente compositores, e provinha deles um senso mais nítido de estrutura e de harmonia nas canções. O Zeppelin é o ponto alto do heavy metal, antes que o gigantismo sonoro engolisse o artesanato das melodias, harmonias e letras.
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