segunda-feira, 17 de março de 2008

0272) A sombra sonora de um disco voador (3.2.2004)




Anos atrás, o Diário da Borborema publicou uma matéria sensacional. Um disco voador tinha sido avistado no Distrito Industrial de Campina. Mais do que avistado, tinha sido clicado pelo fotógrafo Machado Bittencourt, que estava voltando de um trabalho qualquer e tinha à mão a câmara pronta para registrar a passagem da espaçonave alienígena. Fotos na primeira página, sensação, os programas de rádio não falavam noutra coisa, e o jornal vendendo mais do que o cordel da morte de Lampião (esse falatório é justamente a gigantesca “sombra sonora” projetada pelos OVNIs). As fotos mostravam com enorme nitidez a espaçonave, no tradicional formato discóide revelado nos EUA pelas fotos famosas de George Adamski.

No dia seguinte, caiu outra bomba. Era mentira! Tudo tinha sido um golpe armado por Machado, para mostrar o quanto era fácil forjar esses troços. O disco não passava de uma calota de automóvel, e as fotos publicadas no dia seguinte mostravam, se bem me lembro, um molecote atirando a calota ao ar enquanto Machado apontava a câmera. O cineasta quase foi escorraçado de Campina pelos acreditantes do dia anterior.

Machado, de quem nunca fui um amigo muito próximo mas que recordo com saudade, estava prestando um serviço muito importante no mundo de hoje, um mundo que se baseia muito em recursos tecnológicos e efeitos especiais. Estava mostrando como é fácil, e como está ao alcance de qualquer um, produzir registros falsos que dão uma enorme impressão de realidade. O mundo de hoje está cheio de São-Tomés ingênuos, que bradam: “É verdade! Existe, sim! Eu vi com meus próprios olhos!” Lamento dizer que tudo isto está errado. O disco-voador do Distrito Industrial não era verdade; não existia; e os que o viram não o fizeram com seus próprios olhos, mas com o olho da câmara de um fotógrafo competente e dotado de um senso de humor irreverente e sardônico.

Desconfiem, amigos. Desconfiem do “manuscrito autêntico do século 16”, que qualquer restaurador da Biblioteca Nacional poderá lhes explicar como se falsifica (papel, tinta, lacre; até as bactérias da época podem ser conseguidas). Desconfiem das aparições sobrenaturais “testemunhadas e documentadas” por pessoas idôneas: as pessoas podem ser idôneas, mas em geral são meio burras, e nunca conversaram com um ilusionista profissional. Desconfiem dos paranormais que entortam utensílios ou materializam objetos: qualquer curso de mágica por correspondência pode transformar num Uri Geller eu, você ou seu tio aposentado que vive em busca de algo para preencher o tempo livre.

Fotos espetaculares de discos voadores foram criadas por Tom Callen, astrônomo do Museu de História Natural de Estocolmo, usando “uma câmara, alguns modelos, um computador, e um software de efeitos gráficos”. Os resultados (e as dicas técnicas) podem ser vistos em: http://www.csicop.org/si/2003-09/faking-ufo-photos.html. (Eita, agora que dei a dica a Paraíba vai virar espaçoporto.)

3 comentários:

Bruno Gaudêncio disse...

Essa história foi contada por Rômulo Azevedo com toda aquela ironia. Machado é suas peripécias. A Garota que lançou "o disco" foi o hoje fotografo Kleper, atual professor de Fotografia do curso de Comunicação Social. Campina Grande e seus personagens e histórias.

Anônimo disse...

Hoje em dia quase todas as pessoas andam nas ruas com cameras digitais de bolso, ou mesmo celulares com esse dispositivo. E no entanto, os avistamentos de UFOS apresentou uma diminuição em relação à época em que eram raras as situações em que o observador pudesse dispor, no momento do avistamento, este apetrecho tecnologico. O que isso prova? Que tudo não passa de invenção. Nao que a existencia de vida alienigena esteja descartada, considerando a quantidade de galaxias existentes no universo, mas um contato dessa natureza seria como achar uma agulha no palheiro.

Jerbbson disse...

Nossas crenças superam a razão e a colocam sob controle. É fácil deixar de crer que 2 + 2 = 5, difícil é deixar de crer no além.