(Al-Jazari, "The Elephant Clock")
& a
superstição é um mapa que a pessoa desenha e depois segue
& aquele
goleiro agarra até meteoro
& no futuro
vão nos implantar um telefone no ouvido e um despertador sei lá onde
& ganhei uma
balança com três pratos e ainda estou me orientando
& elas dizem
que é um clube de leitura, mas tudo indica que é uma seita de bordadeiras vudu
& no meio
dessa turma eu me sinto uma zebra de listras horizontais
& todo
escultor é um Orfeu que olhou para trás
& isso que
vocês me pedem só vou poder atender no dia de São Sempre
& quando o
absurdo da vida se torna um problema, o jeito é usá-lo também como solução
& vivo imbuído
daquela sensação de heroísmo anônimo que pulsa em todo tijolo de represa
& quem tem
forma e conteúdo é almofada; livro tem letras e eletricidade
& o problema
da literatura de hoje é que além do Alzheimer da memória existe um da
imaginação
& minha
relação com ela não é bem de amor platônico, é mais uma espécie de mestre-sala
e porta-bandeira
& o impossível
é apenas um painel onde nem todos os botões foram apertados
& um filme de
Kubrick não é muito diferente de um cubo de Rubik
& toda traição
acarreta um salto da mentira para a verdade
& a poesia é
como a luz das estrelas, que não projeta sombras
& um fagote é
um foguete cujo som espesso é capaz de fagocitar o da orquestra inteira
& quem vai a
um baile no castelo do inimigo corre o perigo de não ter com quem dançar
& certos
talentos são solúveis no fracasso, outros no sucesso
& o vento que
traz a canção é o mesmo que leva embora o cantor
& é difícil
viver num mundo onde cada pessoa tem um megafone
& a morte só é
tragédia na juventude, quando temos certeza de que somos imortais
& passei
direto do catecismo para o ceticismo
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