sábado, 4 de outubro de 2025

5201) Contracapa de Gemini (4.10.2025)

 


(Al-Jazari, "The Elephant Clock")

 
 
&  a superstição é um mapa que a pessoa desenha e depois segue 
 
&  aquele goleiro agarra até meteoro 
 
&  no futuro vão nos implantar um telefone no ouvido e um despertador sei lá onde 
 
&  ganhei uma balança com três pratos e ainda estou me orientando 
 
&  elas dizem que é um clube de leitura, mas tudo indica que é uma seita de bordadeiras vudu 
 
&  no meio dessa turma eu me sinto uma zebra de listras horizontais 
 
&  todo escultor é um Orfeu que olhou para trás 
 
&  isso que vocês me pedem só vou poder atender no dia de São Sempre 
 
&  quando o absurdo da vida se torna um problema, o jeito é usá-lo também como solução 
 
&  vivo imbuído daquela sensação de heroísmo anônimo que pulsa em todo tijolo de represa 
 
&  quem tem forma e conteúdo é almofada; livro tem letras e eletricidade 
 
&  o problema da literatura de hoje é que além do Alzheimer da memória existe um da imaginação 
 
&  minha relação com ela não é bem de amor platônico, é mais uma espécie de mestre-sala e porta-bandeira 
 
&  o impossível é apenas um painel onde nem todos os botões foram apertados 
 
&  um filme de Kubrick não é muito diferente de um cubo de Rubik
 
&  toda traição acarreta um salto da mentira para a verdade 
 
&  a poesia é como a luz das estrelas, que não projeta sombras 
 
&  um fagote é um foguete cujo som espesso é capaz de fagocitar o da orquestra inteira 
 
&  quem vai a um baile no castelo do inimigo corre o perigo de não ter com quem dançar 
 
&  certos talentos são solúveis no fracasso, outros no sucesso 
 
&  o vento que traz a canção é o mesmo que leva embora o cantor 
 
&  é difícil viver num mundo onde cada pessoa tem um megafone 
 
&  a morte só é tragédia na juventude, quando temos certeza de que somos imortais 
 
&  passei direto do catecismo para o ceticismo 
 
 







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