Somente os vencedores têm a sua história contada. Não existe tempo nem espaço na memória dos homens para a história dos que perderam, dos que ficaram pelo meio do caminho, dos que tentaram e não conseguiram. São a cara da humanidade; mas a própria humanidade os despreza. São a parte submersa do iceberg da história, do qual forçamo-nos a ver somente o que se eleva e se destaca, e fingimos que por baixo nada mais existe. Cadê a biografia dos que nunca subiram ao pódio, dos que perderam todas as eleições, dos que foram passados-no-rodo nas batalhas, dos que ficaram em décimo-primeiro lugar nas listas dos dez melhores, dos que buscados no Google dão zero hits?
Toda
história de sucesso é praticamente a mesma coisa, mas cada derrota e cada
tragédia é mais individualizada, mais pessoal e mais de-carne-e-osso do que o
mero triunfo. Perguntem a Dante
Alighieri, que já respondeu. É uma verdadeira assimetria filosófica que um
escritor que publicou dez livros receba uma biografia e um pretendente a
escritor que pensou em escrever dez livros e não o fez não receba sequer dez
linhas de wiki. Sem falar naqueles que
escreveram livros trabalhosíssimos e deixaram a única cópia datilografada no
banco traseiro de um táxi ou numa maleta esquecida na plataforma de um
trem.
O
sucesso tem uma função meramente ampliadora, mas as histórias que conta não têm
um grama sequer a mais do que as catástrofes de subúrbio, os naufrágios de
piscina de quintal, os apocalipses em
plena adolescência, os hindemburgs que colecionamos na interminável infância. Mandem parar a van em qualquer estrada
lateral de qualquer interiorzão brabo, e detenham o primeiro transeunte que for
passando, como faziam aqueles califas e vizires das mil e uma noites. Ele lhes contará uma história pessoal que
bem escrita deixaria um bilhão de mentes estremecendo mundo afora.
Um comentário:
Eu odeio o sucesso, pois a noção dos primeiros números negativos surgiu há muito tempo na China, até que provem ao “contrário”, antes e em outras civilizações não acreditavam que os números negativos pudessem ser a resolução de uma equação. Esses números eram encarados como um absurdo, falso, impossível. Foi necessário demonstrar por meio de uma reta a direção oposta, para a Grande Maioria compreender que é possível a existência de um número negativo como resposta final, o homem é a medida de todas as coisas.
Acredito, também, que derivado das retas veio à tona a discussão sobre a eternidade, há uma confusão: duas retas paralelas se encontram no infinito, ou não? Outra discussão é a do zero, o zero não é tão natural assim como nos enganam na escola, contar o que não existe não é simples, em muitos casos geram indeterminações, ainda hoje nos perguntamos sobre o ovo e a galinha.
A máxima da reta foi alcançada com os sinais negativos e positivos, tipo: o inimigo de meu inimigo é meu amigo, óbvio. Essa lógica na operação de sinais positivos e negativos possibilitou a compreensão das relações na primeira e segunda guerra mundial: um declarou guerra ao outro até resultar numa rosa, um número complexo. Isso seria muito bonito, uma prova de evolução da história humana, se as rosas, como diria Vinicius, tivessem cor e perfume.
Onde eu estava? Ah sim! Eu odeio o sucesso, pois a trajetória do sucesso é feita com números naturais excluindo o zero, ou seja, eles tentam simplificar a complexa linha evolutiva de uma reta, como percebeu Fernando Pessoa: “todos os meus conhecidos são campeões em tudo”, seria voltar a contar ovelhas com pedrinhas. Infelizmente, boa parte da população se contenta com historinhas de quando eu tinha duas ovelhas e depois ganhei mais duas, assim eu fiquei com quatro. Ainda bem que temos artistas que nos dizem que talvez possa dar cinco, porque o número é apenas um símio, “como dois e dois são cinco”.
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