Estive fazendo uma pequena lista dos finais clássicos para história de aventura (inclusive SF, policial, etc.), onde está em jogo um McGuffin qualquer – uma fórmula secreta, código criptográfico, dinheiro roubado, uma obra de arte rara, etc.. Subentende-se que o herói e um ou mais grupos de bandidos disputam para ver quem fica com o objeto. (“McGuffin” é o termo criado por Alfred Hitchcock para designar esses objetos misteriosos, que têm pouco interesse em si mesmos, mas são alvo de uma disputa de vida-ou-morte que movimenta a narrativa. Um McGuffin clássico: O Falcão Maltês.
Um final típico: o herói fica com o objeto, e o entrega às
autoridades (no caso de um McGuffin de interesse nacional). Ou então: o herói fica com o objeto, e o
entrega a uma pessoa que tinha direitos sobre ele (a família do falecido dono,
etc.). Estes são dois happy-ends
convencionais.
Uma terceira versão seria: o herói ilude tanto os bandidos
quanto as autoridades, e fica com o objeto para si. Este é um final feliz típico de heróis
fora-da-lei: Arsène Lupin (de Maurice Leblanc), O Santo (de Leslie Charteris),
etc. Outra variante: Um dos bandidos
apossa-se do objeto, tenta fugir, e é destruído junto com ele. Usado geralmente como um final moralista,
“o-castigo-da-ambição”. Também uma maneira prudente de eliminar um McGuffin (em
histórias de FC) que, continuando a existir, traria enormes impasses à
verossimilhança da história.
Mais uma: O bandido apossa-se do objeto, mas nesse instante
percebe que o objeto não era nada do que se imaginava: era algo maligno, ou com
sistema-de-proteção, que destrói quem violar seu segredo (os espíritos que saem
da Arca, em Caçadores da Arca Perdida).
Um final clássico e muitas vezes realizado com elegância dramática é
aquele onde, na luta para ficar com o objeto, ele escapa das mãos de todos e é
destruído ou fica inacessível (o dinheiro espalhado na piscina em Gangsters de
Casaca, o ouro espalhado no meio da rua em 7 Homens de Ouro).
Variantes meio catastróficas são aquelas onde alguém (o
herói ou bandido) ao se apoderar do objeto percebe que ele não vale mais nada
(a fórmula está ilegível, o dinheiro é obsoleto e sem valor, o conteúdo do
cofre fora esvaziado há séculos, etc.), ou então casos clássicos em que o
bandido apossa-se do objeto e, ao perceber que vai ser alcançado pelo herói, o
destrói (“Se não for meu, não será de ninguém!”): Conan Doyle, O Signo dos
Quatro. O McGuffin, conforme teorizado
por Hitchcock, é aquele elemento essencial à história, sem o qual a história
não aconteceria, mas a história nunca é sobre ele, e sim sobre as pessoas que acreditam
nele.
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