(by Eduardo Salles)
Uma das coisas mais fascinantes das redes sociais é o fato
de que, quando temos um número grande de seguidores ou amigos, temos direito a
vislumbres rapidíssimos e enigmáticos da vida de pessoas que conhecemos só
superficialmente, ou que nem fazemos idéia de quem são.
Parece uma lei-não-escrita dessas redes que cada um de nós é livre para postar o que bem entender; mas, devido ao excesso de exposição pública, é melhor não ser demasiado explícito.
Vai daí que as redes sociais são um terreno fértil para a Insinuação, a Indireta, a Vagueza Proposital, a Alfinetada Sutil, a Cotovelada de Quem Não Está Mais Aqui, a Ameaça Pública Velada, o Queixume Com Destino Certo...
Parece uma lei-não-escrita dessas redes que cada um de nós é livre para postar o que bem entender; mas, devido ao excesso de exposição pública, é melhor não ser demasiado explícito.
Vai daí que as redes sociais são um terreno fértil para a Insinuação, a Indireta, a Vagueza Proposital, a Alfinetada Sutil, a Cotovelada de Quem Não Está Mais Aqui, a Ameaça Pública Velada, o Queixume Com Destino Certo...
Você vai correndo a tela, olha aqui, olha acolá, e de
repente se depara com alguém que posta: “Muita gente pensa que só quem cai pra
baixo é a chuva, mas não perde por esperar!”.
Como sou um cara meio paranóico, tudo que leio penso que é comigo, até as quadras de Nostradamus. Aí, verifico direitinho quem é a pessoa, peço ao Facebook para exibir nossa amizade, acabo me tranquilizando. Não é comigo.
Mas quando retorno à página, um sujeito de má catadura acabou de postar: “De falsos intelectuais este Facebook está cheio, mas tudo bem, isso me dá motivos para gargalhadas, e faz bem à saúde!”. Recuo, desconcertado. Que mal fiz eu ao barbudo para ele me chamar de pseudo-intelectual? Meia hora para me auto-dissuadir, para me refazer.
Como sou um cara meio paranóico, tudo que leio penso que é comigo, até as quadras de Nostradamus. Aí, verifico direitinho quem é a pessoa, peço ao Facebook para exibir nossa amizade, acabo me tranquilizando. Não é comigo.
Mas quando retorno à página, um sujeito de má catadura acabou de postar: “De falsos intelectuais este Facebook está cheio, mas tudo bem, isso me dá motivos para gargalhadas, e faz bem à saúde!”. Recuo, desconcertado. Que mal fiz eu ao barbudo para ele me chamar de pseudo-intelectual? Meia hora para me auto-dissuadir, para me refazer.
Você se distrai com as postagens de uns e de outros, este
aqui indicando um clip de erros de continuidade no cinemão blockbuster, outro
mostrando um número ao vivo de Django Reinhardt, outro com a lista dos dez gols
mais bonitos na votação da Fifa... O mundo vira um parque de diversões
inofensivo, ou uma confeitaria onde as guloseimas são de graça e não
empanturram.
Mas de repente, surge aquela postagem lacônica de alguma senhora: “Uma certa pessoa deveria tirar o cavalinho da chuva pensando que está com a bola toda. Não está não, mas vai descobrir da pior maneira possível”. Meu dia desmorona. O que foi que eu fiz a essa postante? Nem reconheço o nome!
Clico, verifico a foto, a verdade é que nunca a vi mais gorda, tenho até vontade de comentar seu post dizendo isso, mas se ela já está belicosa é capaz até de levar a mal.
Mas de repente, surge aquela postagem lacônica de alguma senhora: “Uma certa pessoa deveria tirar o cavalinho da chuva pensando que está com a bola toda. Não está não, mas vai descobrir da pior maneira possível”. Meu dia desmorona. O que foi que eu fiz a essa postante? Nem reconheço o nome!
Clico, verifico a foto, a verdade é que nunca a vi mais gorda, tenho até vontade de comentar seu post dizendo isso, mas se ela já está belicosa é capaz até de levar a mal.
Continuo sem saber quem é, o que será que lhe aconteceu; mas a luz alheia também nos ilumina, e por essa noite vou dormir feliz.
2 comentários:
Saudades de um período sem Celular, sem Twitter, nem Facebook, mas pleno de afetos verdadeiros...
Triste presente, esse de palavras e amores obsoletos, onde temos que “ tuitar ” todo o nosso sentimento em 140 caracteres. Triste presente, esse de janelas de Facebook, a sugerir amigos. Amigos sem tempo, apressados e reticentes. Números! Tempo triste, esse, de estatísticas para medir afeto, carinho e amizade. Um milhão de amigos, no entanto, uma solidão doída, não partilhada.
Gostei do seu espaço. Voltarei mais vezes. Bjs
O conceito de mundo sempre me bate à porta no domingo pela manhã, alguns são tão frequentes que já abrem a porta da geladeira, fecham com o calcanhar e aproveitamos as sobras do almoço pra encerrar o domingo com um mexidão de tudo que não se esqueceu de segunda-feira para cá.
Os mais frequentes estão relacionados ao capitalismo, à política, à música, à religião e à felicidade. Por vezes, a religião e o capitalismo se misturam, ou a política e a religião e o capitalismo, ou a música e o capitalismo e a política e a religião, quando o capitalismo ocorre forma um bolo alimentar picante. Essas semanas atípicas não me permitem sentir todos os mil sabores dos mil eventos transcorridos da memória semanal: resultando em uma azia domingueira que nem boldo, nem São Jorge resolvem.
Exemplo mercadológico vivido: A bíblia evangélica com promessas em curto prazo em poucas prestações; a católica com promessas em longo prazo, contudo com juros menores e menos abusivos; a espírita apostando no capital de giro, mas sofremos o risco de um mau investimento recair sobre nossas as futuras ações. Eu pergunto a esse tipo conceito: tudo é dinheiro? O homem se realiza no contracheque? É de se imaginar que estes domingos não terminem muito bem.
O último conceito que eu recebi estava tão estranho, nem parecia comigo. Eu perguntei quem era e me respondeu que era Quem Eu Queria Ser Se Eu Tivesse Sido. Esse tipo de conceito é agoniante, ficou comigo várias semanas fechando e abrindo portas, no fim não sabia se eu estava dentro ou se estava fora de minha própria casa. “Chega!”- Eu me disse- “eu sou eu mesmo, até não sendo”.
Nós rimos até! E foi embora levando, com o cogito, parte minha que seria minha se eu tivesse sido, chorei.
Agora a felicidade, eu e a felicidade temos muito em comum: acreditamos na eternidade, odiamos a segunda-feira; não aceitamos promessas de salvação, nem de loteria, porque estamos salvos e muito ricos de vontades. E mesmo lutando contra moinho-de-ventos e a segunda-feira sempre chegue, não nos esquecemos da simplicidade. Convidamos Louis Armstrong, pois apesar de apenada semana: What a wonderful world.. I see friends shaking hands, saying… "how do you do?".
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