quinta-feira, 14 de junho de 2012

2896) Três contos de FC (14.6.2012)



(escultura: Jeremy Mayer)


O escritor Luiz Bras, no jornal Rascunho (Curitiba) promoveu uma enquete informal entre leitores de ficção científica, pedindo que votassem nos três melhores contos da FC brasileira. Fui um dos consultados, mas o pedido veio num momento caótico do meu cotidiano.  Quando me toquei, vi que não tinha respondido à pergunta de Luiz. O conto mais votado foi “A escuridão” (1963) de André Carneiro, um dos grandes textos de nossa FC (eu o incluí na minha antologia Páginas de Sombra, de 2003).  Em todo caso, mesmo com atraso, aqui vão os contos que eu havia anotado e esqueci de enviar para a enquete.

Eu votaria em “Ma-Hôre” (1961) de Rachel de Queiroz, que incluí na antologia Páginas do Futuro (2011). É a história de um pequeno ser anfíbio em cujo planeta desembarca uma nave terrestre. Ele dá um jeito de entrar na nave, aprende a se comunicar mais ou menos com os astronautas, e ao subir com eles ao espaço começa a tramar um jeito de escapar. É um conto na linha tradicional da FC em que criaturas mais simples e mais primitivas conseguem, por sua engenhosidade, iludir membros de uma civilização mais tecnológica.

Votaria em “61 Cygni” (1960) de Fausto Cunha, que também incluí na antologia Contos Fantásticos de Amor e Sexo (Ímã Editorial, 2011). É a história assustadora de uma prostituta que, de madrugada, num beco escuro, se depara com um cliente muito fácil de satisfazer, porque sempre se satisfaz. É um conto cruel à maneira de Villiers de l’Isle Adam, e tem um final “slingshot” que projeta toda a história num outro nível de realidade. E votaria em “Dea mayor sperientiae”(1965) de Nilson Martello, disfarçado de crônica do século 14, relatando o encontro de um rei português com uma criatura extraterrestre, com direito a uma saborosa reconstituição/contrafação do português falado na época. Foi republicado por Roberto Causo em sua antologia Estranhos Contatos (Caioá Editora, 1998).

Escolhidos estes contos, percebi que eram todos de uma mesma época, e que eu não havia incluído nenhum conto contemporâneo, embora haja muitos deles de boa qualidade.  O que ocorre é que em enquetes assim nunca buscamos a surpresa, e sim o óbvio; buscamos textos que nos parecem tão bons ou tão importantes que ninguém ousaria discordar.  Um pequeno cânone em forma de pílula. São importantes para mim (não só estes, claro) porque os li antes dos 16 anos.  Eles me mostraram, a mim que lia de Ray Bradbury a Richard-Bessière, o que uma FC brasileira poderia fazer dentro do universo da nossa língua e da nossa intuição fabulatória. Eles me ajudaram a ter da FC brasileira uma alta expectativa literária, desde o começo.

Um comentário:

Bruno disse...

Poxá, fiquei interessado no conto da Raquel! pena que ela não se aventurou mais na ficção científica, quem sabe seria um dos grandes nomes do gênero hoje.