sexta-feira, 22 de outubro de 2010

2380) Os direitos dos autistas (22.10.2010)



(Ari Ne'eman)

Amigos meus postaram um texto no Facebook dizendo: “As pessoas precisam entender que as crianças com necessidades especiais não estão doentes. Elas não procuram uma cura, apenas aceitação”. Eu estava justamente começando a preparar uma coluna sobre este assunto, abordando a questão dos autistas. Autistas são aquelas crianças que por alguma razão têm dificuldade de se relacionar com outras pessoas, demoram a aprender a falar, a andar; são ensimesmadas, têm baixa afetividade, comportam-se de maneira mecânica, têm hábitos extravagantes (embora inofensivos). A variedade de sintomas é enorme.

Muitos autistas crescem e tornam-se funcionais. Este é o termo pragmático, utilitário, egoísta, com que nossa sociedade premia os que se integram nela. Funcionam – como uma máquina obediente. Há pouco, o presidente Obama nomeou um autista para o National Council of Disability (NCD), um painel que assessora medidas na área da saúde pública, escolas, e reformas em geral para favorecer os portadores de deficiência (ver: http://tinyurl.com/2cptc8p). Ari Ne’eman afirmou à imprensa que os autistas precisam de respeito, direitos civis e acesso aos serviços da comunidade; o que não precisam é de piedade e de cura. Os autistas, diz ele, não querem se tornar iguais às outras pessoas, querem ser como são (pois se sentem bem sendo assim) e ter os mesmos direitos. “A comunidade dos autistas”, diz ele, “não tem se focado nessas questões de qualidade de vida e de direitos civis, porque tem sido distraída por questões como a causa da doença e as possíveis curas”.

O autismo consiste, em grande parte, na incapacidade de ter empatia, de criar um modelo mental dos pensamentos das outras pessoas e reproduzi-lo, identificando-se com elas. Mesmo os autistas funcionais têm dificuldade em perceber duplos sentidos, ironias, gozações, etc. Um autista tende a interpretar ao pé da letra tudo que vê. Um autista tem dificuldade em perceber quando alguém está blefando; e é praticamente incapaz de blefar. Autistas não sentem necessidade de falar com outras pessoas com os olhos nos olhos (isto não tem uma função especial para eles, como tem para nós); não têm disposição para o que se chama de “small talk”, conversar bobagem na companhia de outras pessoas, apenas para criar um momento de camaradagem, de comunicação sem compromisso. E os autistas (diz Ne’eman) querem continuar sendo assim.

O autista está integrado num movimento de “neurodiversidade”, em torno da ASAN (Autism Network International - http://www.autisticadvocacy.org/) . É o movimento dos que têm uma mente diferente da nossa. E que se sentem no direito de tê-la. Diz Ne’eman: “A vida diária num mundo organizado para as outras pessoas é, para nós, como atravessar um campo minado. Há um grande número de regras sociais que não compreendemos. E as consequências para quem viola essas leis são terríveis”.

10 comentários:

Kadu Mauad disse...
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Kadu Mauad disse...
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Kadu Mauad disse...
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Kadu Mauad disse...

A primeira vez que ouvi falar em autismo foi na ficção. Um filme cujo personagem protagonista tinha essa excepcionalidade. Ao contrário de meu pai, seu Quintino, que viu na adolescência "A primeira noite de um homem", (The Graduate) conheci Dustin Hoffman (Raymond Babbitt) no longa "Rain Man", tendo ao lado o coadjuvante Tom Cruise (Charlie Babbitt), neste papel extraordinário. Para mim, foi uma experiência emblemática. Tenho certeza de que nunca mais fui o mesmo.

Vez por outra, faço um trocadilho com a palavra artista e autista. De certa forma quero provocar meu interlocutor, dizendo a ele que todos temos nossa parcela de tolerância à realidade, como também todos vemos o mundo de um ângulo diferente do ângulo do outro.

Se observar o símbolo mundial da conscientização que se relaciona ao assunto autismo (http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/7/78/Autism_awareness_ribbon-20051114.png), que é uma fita montada com peças de quebra-cabeça, lembra, sugere a estrutura da Quarta Dimensão.

Carlos Angelo disse...

Tem um romance muito bom, chamado *The Speed of Dark*, de Elizabeth Moon, sobre um autista adulto e competente de um futuro próximo em que surge uma "cura" para essa condição, mas ele se questiona se isso seria bom, pois eliminaria um dos principais elementos definidores da sua personalidade, seria quase como se ele morresse e outra pessoa ficasse no lugar. E a autora fala com propriedade, pois é mãe de um autista.

Braulio Tavares disse...

Rain Man me comoveu profundamente quando o vi. Belo filme, e DH arrasa. Quanto ao trocadilho de artista e autista, é quase inevitável, né não? Tb já usei muitas vezes.

Carlos Angelo disse...

Nunca vi "Rain Man" e não sabia que era sobre autismo. Eu me identifico muito com Forrest Gump, que foi muito bem interpretado por Tom Hanks, até nas posturas corporais.

Kadu Mauad disse...

Sem querer entrar num duelo de ideias, o que seria muito saudável, mas que não convém.

Concordo plenariamente, mestre, e é mestre mesmo! concordo que o trocadilho é mais do que batido, é muito batido, é batidíssimo.

Na verdade, o que deixei implícito, quando tentei explicar sobre a mensagem da brincadeira, foi acrescentar ao que supostamente sempre me pareceu um jogo de palavras pejorativo quanto à alienação do sujeito que se auto-intitula e o rotulam de artista/autista.

Só.

Forte abraço, BT.
Kdu

Braulio Tavares disse...

Kadu, não quis dizer que teu trocadilho era batido, não acho que seja. Apenas para registrar a coincidência de ambos termos percebido a semelhança entre as palavras. Trocadilho é uma piada pronta (por associação de ideias), pq as palavras estão ali, é só alguém perceber que se parecem. E sempre tem pessoas q percebem.

Braulio Tavares disse...

Kadu, não quis dizer que teu trocadilho era batido, não acho que seja. Apenas para registrar a coincidência de ambos termos percebido a semelhança entre as palavras. Trocadilho é uma piada pronta (por associação de ideias), pq as palavras estão ali, é só alguém perceber que se parecem. E sempre tem pessoas q percebem.