sábado, 10 de julho de 2010

2254) Os pais monstros (29.5.2010)



O “Globo” de domingo passado deu uma matéria que, se conseguíssemos eliminar o tom descontraído de um artigo de jornal, poderia facilmente se transformar numa história de terror. O jornalista fala sobre um novo tipo de problema que está aparecendo no meio educacional do Japão: os pais monstros, pais que interferem de todas as maneiras possíveis na educação que seus filhos recebem nas escolas. Ao que parece, há uma faixa de pais (não muito larga, mas muito atuante) que toma para si uma responsabilidade excessiva quanto à educação dos filhos, e não deixa em paz nem a escola nem os professores. Segundo a matéria de Claudia Sarmento, nos EUA esses pais são conhecidos como “pais helicópteros”, porque fazem muito barulho e espalham poeira quando chegam.

Alguns pais plugam gravadores no uniforme dos filhos para gravar todas as aulas e em casa, à noite, examinar o que os professores disseram, e, muitas vezes, discordar deles. Como a cultura japonesa é extremamente formal, uma reprovação no fim do ano é quase uma catástrofe familiar. Nas competições esportivas, os colégios são coagidos a distribuir medalhas com os alunos de acordo com as expectativas ou as ansiedades destes (para que o fracasso não os traumatize), e não com o resultado das provas.

Diz a matéria: “Há mães que exigem que professores busquem seus filhos em casa ou lavem seus uniformes; outras obrigam o colégio a refazer o álbum de fotos escolar porque seus filhos apareceram ao lado de coleguinhas mais bonitos”. E há episódios hilários como o da montagem de uma peça de “Branca de Neve e os 7 Anões” sem anões (ninguém quis o papel) e em que todas as meninas faziam o papel da Princesa. Quando eu vejo essas coisas, sinto um profundo alívio por ter desistido de seguir a carreira de professor.

Pressão sobre professores não é raridade aqui no Brasil. Quem mexe com educação sabe que saímos de um século em que a regra eram professores tirânicos que perseguiam, oprimiam e apavoravam os pobres alunos, para um século em que alunos tirânicos apavoram, oprimem e perseguem os pobres professores. Ninguém é bonzinho a priori. Em escolas públicas de periferia, vemos professores pacatos, fatigados por excesso de trabalho, sofrendo para ajeitar a vida dentro do salário minguado que recebem, e tendo que enfrentar adolescentes belicosos, desafiadores, insubordinados e que muitas vezes vão para a aula drogados ou com armas. E em escolas caras, escolas selecionadíssimas, onde se formam nossas elites econômicas e políticas, já vi professores se queixando de serem humilhados pelos alunos riquinhos. Uma amiga minha ensinou numa escola, aqui no Rio, em que todos os alunos dela vinham para a aula de carro blindado e motorista particular. E quando levavam uma nota baixa ou uma repreensão em sala, diziam: “Vou me queixar de você ao meu pai, você tem idéia de quem é meu pai?”. É assim, amigos. Num país que perdeu seu centro, tudo é periferia.

Um comentário:

Renata Elis disse...

O pior eh que esse mal tratamento em relacao aos professores nao eh um habito so do brasileiro. Eh um problema universal. Que triste.