sábado, 27 de fevereiro de 2010

1716) O último rei da Esbórnia (11.9.2008)



(Mswati III)

A festa, dias atrás, era oficialmente para comemorar os 40 anos de independência da Suazilândia, mas como a data coincidia com o aniversário de 40 anos do rei nenhum súdito se enganava quanto ao verdadeiro motivo. Todos agitavam bandeirolas ao monarca enquanto ele, vestindo pele de leopardo, desfilava numa BMW sem capota pelas ruas da esfarrapada capital do país. O rei Mswati III é mais um potentado exótico da África. Não faz muita diferença que sejam reis, presidentes eleitos, ditadores que tomaram o poder pelas armas. Todos fazem o mesmo: auto-glorificação constante, apelo exacerbado às tradições étnicas, derrame de dinheiro em festas ou obras faraônicas, perseguição sangrenta a adversários ou dissidentes. O que ocorre nessas nações africanas (não em todas, é claro) nada mais é do que o tribalismo selvagem com injeção brutal de capital cosmopolita e acesso da elite ao consumo “de Primeiro Mundo”.

O rei alega ter gasto apenas 2 milhões e meio de dólares com a festa, a imprensa fala numa despesa cinco vezes maior. Os opositores queixam-se, timidamente, de que oito da 13 esposas do rei pegaram o avião para Dubai, invadiram os shopping-centers, puxaram os cartões corporativos (ou o seu equivalente na Suazilândia) e deram uma baixa no estoque, adquirindo presentes de nível monárquico, adereços para a festa, etc. Frotas de carros de luxo desfilaram pelas ruas com os convidados vip, entre eles o presidente Mugabe, do Zimbábue, que recentemente escandalizou o mundo com as eleições que montou para se eleger para mais um mandato, aos 84 anos de idade e 21 de poder.

Será um exagero, um regabofe deste tamanho para comemorar o aniversário do rei? De certo modo, há o que comemorar, sim. Apenas um em quatro suazilandeses chega aos 40 anos, de modo que os chegantes têm mais é que soltar fogos. A expectativa de vida no país é de pouco mais de trinta anos, e está gravemente comprometida pelo fato de que o país tem o maior índice de incidência de Aids no mundo: 38,8%. Só para comparar, o índice da África sub-saariana é de 7,5%, e o índice mundial é 1%.

Por que motivos os reis de uma nação tão pobre gastam de maneira tão perdulária? Porque são pretos? Porque são burros? Porque são pobres? Porque são maus? Não acho que seja bem isso; em grande parte é porque foram colonizados pelos europeus, aprenderam suas línguas, estudaram sua história. Modelam seus reis em seus próprios líderes tribais e em monarcas como por exemplo Luís XIV, que também fez guerras inúteis, perseguiu os inimigos, deu festas de arromba o tempo inteiro, construiu palácios e mais palácios. Hoje admiramos os tesouros arquitetônicos que deixou, e nos divertimos com os cerimoniais rococós das etiquetas de sua corte. Os soberanos portugueses de seu tempo não lhe ficavam muito atrás. Luís XIV ficou no trono 72 anos (1643 a 1715). O rei Sobhuza, da Suazilândia, ficou 82 (de 1899 a 1982). O espírito é o mesmo, e não tem raça nem cor.

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