No mercado editorial norte-americano existe uma tradição, pouco frequente entre nós, de publicação de textos relativos ao Natal e a outras efemérides religiosas ou civis. São as chamadas “holiday anthologies”, e o lado mais divertido delas é ver de que maneira os escritores conseguem reunir o tema proposto e as convenções do gênero. Enquanto Houver Natal – oito estórias de ficção científica é uma antologia cujo título é auto-explicativo, e foi publicada em 1989 por Gumercindo Dórea em sua tradicional Editora GRD, de São Paulo. A GRD foi a principal editora de FC no Brasil na década de 1960. Ao mesmo tempo em que lançava para o grande público as obras de estréia de jovens desconhecidos como Rubem Fonseca e Nélida Piñon, a GRD publicava os melhores títulos da FC internacional, além de antologias e de coletâneas de autores brasileiros como Dinah Silveira de Queiroz e Fausto Cunha.
Meu conto preferido na antologia natalina é o de José dos Santos Fernandes, “Atendimento Domiciliar”, em que um grupo de viajantes no Tempo tem problemas técnicos e fica preso por algumas horas no passado remoto. O conto evita com habilidade qualquer indicação clara de que lugar é aquele, quem são aquelas pessoas. Os viajantes no Tempo são identificados por seus nomes (Prof. Franz, Dr. Armand, etc.), mas não temos idéia da região do planeta onde desceram. Um dos personagens, ao conferir seus cálculos, diz que estão a mais de 5 mil anos de sua própria época – o que nada revela. Mas quando a nave em que viajam (é uma nave espacial que viaja no Tempo) precisa pousar, o piloto diz: “Se eu usar os desaceleradores, nós vamos brilhar mais do que a lua cheia”. E em seguida “a nave riscou o céu noturno como uma estrela cadente de brilho jamais visto, indo descer no sopé de umas colinas, fora dos limites da cidade”.
Enquanto a nave é consertada, o médico e o historiador exploram o terreno em volta e acabam descobrindo uma gruta “sombria e abafada”, com “palha e capim espalhados por toda parte”, e onde, num cercado ao fundo, estão dois jumentos e um cavalo. Ao se aproximarem dali eles vêem um homem de meia idade sair correndo, rumo à cidadezinha; quando entram, percebem uma mulher muito jovem está em trabalho de parto, com risco de morrer. O cirurgião faz uma cesariana a laser e depois fecha a cicatriz, deixando-a imperceptível. E diz: “Ninguém jamais poderá dizer, nesta época, que ela foi operada e teve um filho”. Deixam o bebê com a mãe e, quando a nave fica pronta, embarcam de volta, e ainda têm tempo de ver um grupo de pastores e camponeses aproximando-se da gruta.
É um desses contos “à clef” da ficção científica, em que uma situação familiar ao leitor é descrita pelo ponto de vista de observadores externos, e a charada vai se resolvendo aos poucos. É também um tipo de conto em que o autor procura dar uma explicação científica, ainda que com elementos imaginários, aos milagres e aos mitos de nossa cultura.
Meu conto preferido na antologia natalina é o de José dos Santos Fernandes, “Atendimento Domiciliar”, em que um grupo de viajantes no Tempo tem problemas técnicos e fica preso por algumas horas no passado remoto. O conto evita com habilidade qualquer indicação clara de que lugar é aquele, quem são aquelas pessoas. Os viajantes no Tempo são identificados por seus nomes (Prof. Franz, Dr. Armand, etc.), mas não temos idéia da região do planeta onde desceram. Um dos personagens, ao conferir seus cálculos, diz que estão a mais de 5 mil anos de sua própria época – o que nada revela. Mas quando a nave em que viajam (é uma nave espacial que viaja no Tempo) precisa pousar, o piloto diz: “Se eu usar os desaceleradores, nós vamos brilhar mais do que a lua cheia”. E em seguida “a nave riscou o céu noturno como uma estrela cadente de brilho jamais visto, indo descer no sopé de umas colinas, fora dos limites da cidade”.
Enquanto a nave é consertada, o médico e o historiador exploram o terreno em volta e acabam descobrindo uma gruta “sombria e abafada”, com “palha e capim espalhados por toda parte”, e onde, num cercado ao fundo, estão dois jumentos e um cavalo. Ao se aproximarem dali eles vêem um homem de meia idade sair correndo, rumo à cidadezinha; quando entram, percebem uma mulher muito jovem está em trabalho de parto, com risco de morrer. O cirurgião faz uma cesariana a laser e depois fecha a cicatriz, deixando-a imperceptível. E diz: “Ninguém jamais poderá dizer, nesta época, que ela foi operada e teve um filho”. Deixam o bebê com a mãe e, quando a nave fica pronta, embarcam de volta, e ainda têm tempo de ver um grupo de pastores e camponeses aproximando-se da gruta.
É um desses contos “à clef” da ficção científica, em que uma situação familiar ao leitor é descrita pelo ponto de vista de observadores externos, e a charada vai se resolvendo aos poucos. É também um tipo de conto em que o autor procura dar uma explicação científica, ainda que com elementos imaginários, aos milagres e aos mitos de nossa cultura.
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