A cervejaria Brahma está se excedendo na própria falta de assunto e de idéias. Tempos atrás tentou inventar uma moda – que não pegou nem vai pegar – de mudar o nome da “quarta-feira” para “zeca-feira”, sendo Zeca, no caso, uma alusão a Zeca Pagodinho. A quarta seria o dia de Zeca – o dia de tomar cerveja. Agora, inventaram outra – que não vai pegar, nem pegou – de chamar a “happy hour” (aquela saidazinha com os amigos após o expediente) de “Zeca hora”. Eu estou com vontade de fazer uma aposta. Cada vez que eu ouvir alguém chamando espontaneamente a quarta-feira de zeca-feira, ou uma “happy hour” de zeca-hora, eu passo um dia inteiro sem beber cerveja.
Vamos examinar esse papo de zeca-hora, o que está indo ao ar. Começa com uma suposta boa intenção, a de substituir por uma expressão em português mais uma dessas coisas que dizemos em inglês para bancar os cosmopolitas e nos diferenciarmos da plebe rude que não sabe pronunciar essas coisas. Na hora de trocar “happy hour” por alguma coisa, a propaganda escorrega quando a traduz por “hora alegre”. Não é, amigos. “Happy hour” quer dizer “hora feliz”, o que não é a mesma coisa. Alegria é quando estamos satisfeitos, eufóricos, mas com a consciência de que se trata de um momento passageiro. Felicidade é quando estamos na mesma situação mas pensamos que esse estado vai perdurar indefinidamente. Para resumir: a gente diz que “está alegre” e diz que “é feliz”.
Traduziram errado – mas não por ignorância, visto que todo publicitário brasileiro é alfabetizado em inglês, e só aprende a língua de Zeca Pagodinho para se comunicar com os nativos. É porque “hora feliz” não lhes proporcionaria o duplo sentido que “hora alegre” proporciona, e que eles exploram no anúncio, sugerindo que “hora alegre” é coisa de homossexual.
Por que? Ora, porque a palavra “gay”, antes de designar homossexual, era um inofensivo adjetivo que significava “alegre”. O uso foi se desviando desde o século 19 para indicar promiscuidade e vida dissipada (“gay house” era bordel, assim como chamamos as prostitutas de “mulheres de vida alegre, ou vida airada”). O uso moderno de “gay” como substantivo indicando um homossexual masculino é da década de 1970, e tem contaminado em retrospecto muitos textos antigos, principalmente letras de músicas, em que o sujeito cantava “Oh, today I am so gay...” ou coisas que o valham. (A palavra vem do francês “gai”, alegre, e é um adjetivo de pouco uso em português, vide “A gaia ciência”, tradução do livro de Nietzsche, ou “A ingaia ciência”, poema de Drummond)
Vai daí que os publicitários da Brahma, querendo combater a expressão “happy hour”, não tiveram como questionar “hora feliz” e inventaram que é “hora alegre”, para nos ameaçar com a pecha de homossexual e nos impingir esse desajeitadíssimo “zeca-hora”. É por essas besteiras e outras que um inglesismo como “happy hour” tem tudo para se fixar em nosso idioma nos próximos cem anos. Zeca-hora o quê, rapaz.
2 comentários:
Dizem que a Brahma vai expandir seus negócios para a pecuária ... Vão vender bois naqueles leilões de tv. Os animais, de alto gabarito, vão ser genericamente chamados de "zeca-gado".
Por pouco não inventaram o zeca-gay...
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