Contos que reconstituem a circulação de um objeto desde a sua fabricação ou sua descoberta original, através de diferentes proprietários, em diferentes circunstâncias. (Nesses contos) produz-se em geral uma visão cumulativa da vida em regiões distintas do mundo, muitas vezes servindo como um mecanismo de Sátira; um tal tipo de conto normalmente se foca nos personagens e ambientes revelados pela narrativa, e não no objeto em trânsito. (...) Contos infantis, por outro lado, são mais propensos a se focar no objeto em si – tipicamente um pássaro ou um boneco – como protagonista, e a incorporar elementos das implicações picarescas do sub-gênero conhecido como Viagem Fantástica.
Curiosamente, quando comecei a ler esse verbete o
primeiro exemplo que me veio à mente foi um filçme que não tem nada a ver com o
fantástico, de que é também citado por Clute: O Rolls-Royce Amarelo (1964), de Anthony Asquith, com Shirley
MacLaine.
É um filme em episódios em que o tal Rolls-Royce passa
pela mão de vários donos, e em torno de cada um deles se constrói uma
historinha divertida.
O verbete de John Clute menciona uma porção de exemplos
na literatura em inglês, e pode ser visto aqui:
http://www.sf-encyclopedia.com/entry/tale_of_circulation
Na literatura fantástica, temos um tipo de “conto de
circulação” que envolve o “objeto maldito”, muitas vezes um livro necronômico
ou orbis-tertius, cuja passagem de mão em mão vai desestruturando a mente dos
seus possuidores e, por tabela, o mundo à sua volta. Acho que qualquer leitor
de literatura de horror pode evocar suas histórias preferidas sobre uma jóia,
um espelho, uma pintura – objetos aparentemente anódinos mas que carregam
consigo uma maldição, que trazem a desgraça aos seus possuidores.
O que caracterizaria essas histórias como “contos de
circulação” seria o uso dessa estrutura de justaposição de episódios
cronologicamente sucessivos, que é típica da Novela literária, mais do que do
Romance.
Há muitos Contos de Circulação (incluindo romances,
claro) na literatura brasileira? Creio que para caracterizar o gênero o objeto
em questão deveria passar pelas mãos de pelo menos três proprietários, para
caracterização essa idéia do “passar de mão em mão”. Um objeto que foi
meramente presenteado por “A” a “B” não estaria propriamente indicando um
percurso.
Lembro das “Idéias de Canário” de Machado de Assis (Páginas Recolhidas, 1899), em que um
esperto canário falante passa de dono em dono e tem sua visão-do-mundo
transformada de acordo com cada novo ambiente onde se instala.
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